sábado, 28 de junho de 2014

Evolução e Mudança

Tecnologia é ferramenta.
A evolução tecnológica acaba, rápida e sem nenhum constrangimento, com o pragmatismo estático herdado do princípio da Revolução Industrial.

Onde antes viamos processos estratificados e isolados de produção de bens e criação de valor e conhecimento, hoje temos, cada vez mais e mais rápido, interações e iterações focais. O indivíduo isolado como foco de dados. E paradoxalmente, por ser elemento ligado em rede, disseminação e compartilhamento de informação, fantasiada de conhecimento em opiniões.

Entramos de sola, como dizem Sayad e Dimenstein (2002), na "Idade Mídia", abusando enormemente do conceito descrito por ambos. Na reinvenção da comunicação que é só significante, carregada de pouco ou nenhum, significado. Quase sem crítica nenhuma.


Preciso, antes de continuar e acabar esquecendo, fazer uma diferenciação entre significado e valor.
Valor é definido por muitos como tudo aquilo que podemos avaliar, pôr preço. As mais das vezes é tangível, pode ser tocado e visto. Significado, por outro lado, nem sempre é tangível, muitas vezes é altamente subjetivo, mas pode ser sentido, algumas raras vezes visto. Mas, dificilmente podemos avaliar.
Me atrevo a adir que, se podemos comprar, seu valor é pouco.
Feito isso, continuemos...

Como disse antes, a evolução tecnológica nos avassala com software livre, cloud computing, mobilidade, VoIP, portabilidade, Bitcoin, 3D printing, veículos elétricos e energias alternativas. Jason Pearlow, do Tech Boiler, diz que, "cada um deles com forças ideológicas e sociais únicas e ainda uma essência comum a todos: a acessibilidade."

E ainda desenvolve a ideia de que esta acessibilidade não é de forma alguma um movimento social ligado ao melhoramento da sociedade como um todo. Por definição seria o desejo pessoal e auto-centrado de não gastar mais. Ou, em termos técnicos, os avanços rápidos da tecnologia têm feito com que nossa percepção do valor das coisas diminua de tal forma que muitos bens e serviços desvalorizaram bem abaixo do que as pessoas estão dispostas a pagar por eles. E que esta situação nunca antes tinha acontecido na história da humanidade.
Nunca antes a tecnologia havia patrocinado a parcimônia.


Se ele não sabe, muito menos eu, diletante extra-oficioso, quando tudo isto começou. Mas, suspeita que tenha sido no final do anos 90, quando do aparecimento do movimento do software livre. Da minha parte, acredito que tenha sido imbuído em nós bem, bem antes, quando ainda tínhamos que nos virar sozinhos como unidades familiares únicas. Mas, isso se perde diluído no tempo e, se alguém escuta, nem presta atenção. Doutra vez, divago nefelibatamente sobre esses assuntos, parece que rezo em latím frente ao Gorrochategui s.j..

E então vieram as crises e as recessões, das quais muitas empresas ainda não acabaram de sair, algumas nem ao menos entenderam o que foi que aconteceu, e criaram uma relutância ao gasto e uma desvalorização de bens e serviços numa escala mundial.

Mesmo que a adoção do software livre não tenha sido aquela panaceia que todos esperavam, ainda é o melhor incentivo para sua adoção e uso. É gráti$!

Por que gastar com servidores caros e complicados quando podemos simplesmente implementar a nuvem (cloud computing)? Com o benefício adicional de não mais precisar de colaboradores especializados e todos os custos embutidos na sua contratação. Reduzir os custos de telefonia e comunicação aproveitando as características do VoIP. Remanejar processos e logísticas aproveitando as redes sociais e automação oferecida em portais do governo.

Mas, e ao mesmo tempo em que as empresas mostram relutância em gastar, há uma substituição de gente (que é considerada barata) por softwares que são, ultimadamente: baratos.


Paradoxalmente, todos estes processos são desenvolvidos por gente, para ser operado por gente, para influenciar gente a fazer coisas que só gente pode fazer: consumir produtos... de gente.
Pode parecer ingênuo ou infantil mas, não está faltando senso nisto tudo? Podemos reduzir todos os custos de produção a sua face mais simples, mas continuaremos na ágora antiga. Onde a tecnologia continua sendo desenvolvida, como antigamente, para ser ferramenta. Um meio, nunca um fim em si mesma.

Nós, gente, continuamos sendo uns o limite dos outros. Como estes limites são transpostos, ultrapassados, e veremos ferramentas em ação.
Tecnologia é ferramenta... já lhes disse isso antes?





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segunda-feira, 23 de junho de 2014

WMS e Picking

O que é WMS (Warehouse Management System) - Sistema de Gestão de Almoxarifado?

Em logística o WMS é essencial para a Gestão da Cadeia de Suprimentos.  Seu principal objetivo é controlar a movimentação e o estoque de materiais dentro do almoxarifado. Ele processa também as transações associadas, incluindo embarque, recebimento, guarda e seleção (ou picking). O sistema inclusive direciona e otimiza a estocagem baseada em informações ao vivo sobre o status da utilização de grade. O WMS deve monitorar a movimentação de produtos dentro do almoxarifado. Ele envolve a estrutura física do armazém, os sistemas de rastreamento e comunicações entre as estações de produto.

Mais precisamente, o sistema de gestão de almoxarifado, envolve o recebimento, estocagem e movimentação de produtos (normalmente produtos acabados), até locação intermediária de estoque ou para o consumidor final. No modelo multi escalonado de distribuição, pode haver múltiplos níveis de almoxarifado. Estes incluem armazém central, armazéns regionais (servidos por um Centro de Distribuição) e potencialmente armazéns de varejo (servidos por almoxarifados regionais).


Os sistemas de gestão de almoxarifados usualmente utilizam tecnologia de identificação automática e captura de dados, tais como leitores de códigos de barra, computadores móveis, LANs (Local Area Networks) sem fio, e alguns até, identificadores de radiofrequência (RFIDs) para eficientemente monitorar o fluxo de produtos. Uma vez coletada a informação, há uma sincronização em lote com, ou uma transmissão via wireless para o banco de dados central. O banco de dados pode então gerar relatórios úteis sobre o status dos produtos no almoxarifado.

O design de armazém e o design de processos dentro do almoxarifado (por exemplo: picking por onda) também é parte da gestão de almoxarifado.


O objetivo do sistema de gestão de almoxarifado é prover um conjunto de procedimentos computadorizados para a gestão de inventário, espaço, equipamento e pessoal do almoxarifado com o objetivo de minimizar custo e reduzir tempo de resposta.
Isto inclui:
  • Um procedimento padronizado de recebimento para manuseio apropriado de carregamentos quando estes chegam. Este processo pode ser individualizado para cada almoxarifado ou para cada tipo de produto.
  • Recebimento de estoque e a devolução ao almoxarifado. Um sistema de gestão de almoxarifado eficiente ajuda as companhias a reduzir despesas minimizando a quantidade desnecessária de peças e produtos no estoque.
  • Modelagem e gestão da representação lógica dos locais físicos de estocagem (o racking, etc.). Permitindo uma ligação entre processos de pedidos e a gestão de logística para poder selecionar, embalar e enviar os produtos.
  • Seguindo onde os produtos estão estocados, de quais fornecedores vieram e o tempo que ficam estocados.
Analisando estes dados, as companhias podem controlar os níveis de inventário e maximizar o uso de espaço no armazém.

PICKING BY LIGHT – Seleção por Luzes (PL)

O sistema "picking by light" consiste em soluções de picking do tipo operador vai até o material, que garantem alta produtividade (até 600 itens por hora). O operador se move ao longo de prateleiras, normalmente prateleiras do tipo "flow rack", os itens a serem retirados são indicados nos displays digitais, o operador reseta o item, após a colocação na caixa. Na prática o selecionador irá seguir a orientação das luzes, colocando os itens separados em diferentes caixas Através da identificação das caixas na zona de separação (o sistema é dividido em zonas de trabalho) os displays indicam ao operador as quantidades e os itens a serem retirados. Uma das principais vantagens deste sistema é a eliminação dos papeis de romaneio, os "picking list"

O sistema trabalha com transportadores acumulativos com zonas de separação interdependentes, nele o sistema faz o rastreamento das caixas ao longo de todo o processo.

Os sistemas de seleção por luzes são aplicados nas seguintes condições:
  • Artigos pouco volumosos; número de estações de trabalho previamente definidas;
  • Artigos com alta rotação.

PICKING BY VOICE – Seleção por voz (VP ou VDW)

Os termos Picking by voice ou voice directed warehousing (VDW) se referem ao uso da direção por voz e ao software de reconhecimento de fala nos centros de distribuição e almoxarifados. O VDW está em uso desde finais de 1990s e se espera um rápido aumento nos próximos cinco anos devido aos avanços da tecnologia e a diminuição do custo dos softwares de reconhecimento de voz e dos computadores mobiles nos quais eles são executados.

Em um almoxarifado ou armazém dirigido por voz (VDW), os colaboradores utilizam fones de ouvidos conectados a computadores portáteis, similares em tamanho ao walkman da Sony, que diz ao colaborador aonde ir e o que fazer usando comandos verbais. Os colaboradores confirmam sua tarefa utilizando comandos pré-definidos e lendo códigos de confirmação impressos nos locais ou produtos no almoxarifado. O software de reconhecimento de voz executado no computador "entende" as respostas do colaborador.

O VDW é usado tipicamente em lugar do papel ou dos sistemas baseados em computadores portáteis que requerem que os colaboradores leiam instruções e registrem códigos de barra ou insiram chaves de código para confirmar suas tarefas. Liberando as mãos e os olhos dos colaboradores, os sistemas de reconhecimento de voz, aumentam a eficiência, acurácia e segurança. Enquanto o VDW foi originalmente utilizado para selecionar pedidos, agora quase todas as funções do almoxarifado, tais como os processos de recebimento de produtos, estoque, reabastecimento, transporte e retorno/devolução podem ser coordenados por sistemas de voz.

As primeiras encarnações do VDW foram implementadas em Centros de Distribuição (CDs) no começo dos anos 90s. Desde então, a voz tem mudado drasticamente. Mais notadamente, a tecnologia era limitada ao picking, onde agora todas as funções do almoxarifado (picking, recebimento, reabastecimento e envio) podem ser coordenadas por sistemas de reconhecimento de voz. Enquanto estes processos mudam de papel-céntrico para RF-céntrico (leitura de códigos de barra) e agora voz-céntrico.

Para alguns, a voz é o ponto de partida para a reengenharia dos processos e sistemas de almoxarifado, mais do que uma reflexão.


PICKING BY RF – Seleção por Radiofrequência (RF)

O servidor de Seleção por Radiofrequência (Picking by RF) oferece uma alternativa econômica para aplicações dentro de operações de atendimento de pedidos com um grande número de produtos e volume que não justifiquem a instalação de Seleção por Luzes (PL). A RF opera em uma ampla gama de terminais de digitalização. Um cliente poderá ser capaz de utilizar os seus terminais de RF existentes.

A integração com o conjunto de Seleção por Luzes permite que o usuário configure algumas "áreas" para RF e outras áreas de PL. Todas as áreas compartilham um servidor de interface comum permitindo que os sistemas de nível superior (WMS e o servidor de Negócios) vejam a área de seleção em um único processo unificado. Os pedidos são autorizados a circular livremente entre as diferentes áreas de seleção.

O servidor de PL se comunica com os terminais de RF usando rede 802.11. O terminal exibe o local pretendido e obtém outras informações do produto específico, como o código do produto ou o número do item. O sistema todo pode ser configurado para requerer a digitalização do número de identificação do produto ou a localização do produto para confirmar a seleção.


COMO ESCOLHER ENTRE SELEÇÃO VDW OU RF?

Em muitos aspectos, eles fornecem os mesmos tipos de benefício e nível de retorno em comparação com a seleção por lista. No entanto, apesar de ser um pouco mais caro, o VDW fornece benefícios quantificáveis significativos e acima de digitalização porque permite as 'mãos e olhos livres'. Os operadores de voz focalizam visualmente na tarefa atribuída e não são distraídos pela necessidade de digitar na unidade de digitalização, enquanto erros devido às imprecisões de digitação são eliminados.

Além disso, com a seleção por RF, não importa como o aparelho seja usado, ele limita a liberdade das mãos, fazendo o levantamento, particularmente os de itens pesados ou incômodos, mais difícil e atrasando a seleção.

Algumas das empresas que substituíram a seleção por RF por seleção por voz reportam uma precisão quantificável e ganhos de produtividade.


ENTÃO, QUAL DELAS OFERECE O MELHOR ROI?

Quase certamente o WMS de Seleção por Luzes é caro - tanto em termos do sistema em si quanto dos dispendiosos sistemas de transporte necessários. Como resultado, e apesar de oferecer alta produtividade, pode não oferecer o melhor ROI. A digitalização por RF é mais barata, mas também menos eficiente.

A VDP oferece produtividade próxima e, às vezes, igual, a de uma Seleção por luzes, a uma fração do custo. Some-se a isso o fato de que pode proporcionar melhorias em todo o espectro de atividades do armazém e que vem a ser a melhor escolha para a maioria dos operadores.

Na tabela a seguir apresento uma comparação dos três sistemas.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Estudo de Caso: Transporte Urbano em Curitiba

Pode se dizer que o transporte coletivo na cidade de Curitiba começou efetivamente nos anos finais do século XIX. Mais precisamente no ano de 1895, quando da promulgação do primeiro Código de Posturas que regulamentava os aspectos de conduta e higiene. A partir dai racionaliza-se o uso do solo curitibano e, em 1910, as ruas do centro eram pavimentadas e os bondes puxados por mulas, foram substituídos por bondes de tração elétrica vindos da França.

Na década de 40, já na metade do século XX, é elaborado um plano amplo para uma nova ordenação do espaço urbano da cidade. Plano este idealizado pelo urbanista e arquiteto francês Alfredo Agache, um dos fundadores da Sociedade Francesa de Urbanismo. Desse plano ainda, resultaram as primeiras grandes avenidas da metrópole, como a Visconde de Guarapuava, a Marechal Floriano Peixoto e a Sete de Setembro. Indicava também uma área para o Centro Cívico, que somente seria iniciado em 1952, uma década depois.


Em 1955 surgiu o primeiro plano de transporte coletivo que divide a cidade em áreas de concessão para empresas privadas de transporte. Quase como acontece com o transporte em São Paulo que é dividido em quatro (4) áreas coloridas, cada uma referindo-se a setores geográficos.

Foi só nos anos 60, bem depois da primeira promulgação de planos regulatórios que, urbanistas da Universidade Federal do Paraná encaminharam à Prefeitura uma proposta de plano diretor para a cidade. Depois de amplo debate (mormente político) foi aprovado, mas iniciado uma década depois.

Na gestão do Prefeito e arquiteto Sr. Jaime Lerner, quando Curitiba assume uma nova condição metropolitana e passa a ser modelo para o Brasil e exemplo mundial, é que foram instituídas as características modernas da cidade, entre elas: as ruas exclusivas para pedestres, a integração do transporte coletivo e o emprego de canaletas exclusivas para os ônibus. Foi aqui, em 1971, onde pela primeira vez no Brasil, se fechou uma rua ao trânsito de veículos e apareceram os calçadões. O trecho hoje se chama Rua das Flores.

O sistema de transporte coletivo de Curitiba começou seguindo as bases traçadas pelo projeto do Plano Diretor da Cidade. E também, às ideias do seu idealizador (Lerner) de que a chave consistiria em não ter meios de transporte competindo no mesmo espaço. Semelhante a maioria das outras cidades brasileiras, Curitiba tinha seu sistema de transporte coletivo composto por linhas diametrais ou de ligação bairro-centro. Isso iria mudar com a integração dos sistemas.


Este novo sistema iniciou em 1974. Sendo criados eixos ligados ao centro da cidade. Entram em operação as linhas expressas e as alimentadoras e sua ligação acontece em terminais. Os ônibus eram projetados para carregar 100 pessoas e esses tinham comunicação visual especial e cores diferenciadas por linhas (expressa ou alimentadora). Começou transportando mais de 54 mil passageiros /dia, cerca de 8% da demanda total.

O sistema foi ampliado ainda mais em 1977, três anos apenas, após sua implantação. E passou a transportar 32% da demanda total da cidade. Dois anos depois, em 1979, o sistema de transporte incorporou as linhas interbairros e passou a responder por 34% da demanda por transporte coletivo.


Com a implantação dos eixos Leste-Oeste, em 1980, a cidade concluía sua Rede Integrada de Transporte – RIT.  Esta RIT foi consolidada pela adoção da tarifa única, com os percursos mais curtos subsidiando os mais longos. Esta tarifa única permitia os passageiros efetua trajetos mais longos com o pagamento de uma única tarifa, fazendo transbordo nos terminais de integração ou mais tarde, das estações tubo. Nesta época a URBS assume a gerência do sistema como concessionária das linhas e as empresas privadas operam somente como permissionárias.
A remuneração, diga-se de passagem, passa a ser feita por quilômetro rodado e não mais por passageiro.

Em 1991, continuando a aprimoração do RIT, são incorporadas as Linhas Diretas (“Ligeirinhos”), destinados a suprir demandas pontuais, de embarque-desembarque nas “Estações Tubo”, pagamento antecipado e uso de ônibus desenhados especialmente para operar como um metrô de superfície, sobre rodas.

No ano seguinte entram em operação os “Biarticulados”, nas linhas expressas com uma capacidade de 270 passageiros. A evolução do RIT continua até que no ano de 1996, por delegação do Governo do Estado a URBS passa a exercer o controle total da região metropolitana, permitindo que a Rede de transportes de Curitiba se integre.


O Sistema de Transporte formado pelas linhas expressas, alimentadoras, interbairros, diretas, é complementado por outros tipos de serviços:
  • Convencionais – que ligam os bairros e municípios vizinhos ao centro;
  • Circular Centro – operada por micro-ônibus, circunda o centro tradicional;
  • Ensino especial – destinada ao atendimento de escolares, portadores de necessidades especiais;
  • Interhospitais – faz a ligação entre os diversos hospitais;
  • Turismo – faz a ligação entre os pontos de atração turística e os parques da cidade

Considerações Finais

A cidade de Curitiba é a 8ª (oitava) cidade mais populosa e a mais rica do Brasil segundo dados do último censo do IBGE. Tem um pouco mais de 1.84 milhões de habitantes. Se comparada com a cidade de São Paulo com seus 11.244.369 habitantes, ela é minúscula. Como todas as outras cidades da Federação. No entanto o que a diferencia das outras é seu sistema de transporte coletivo, desenvolvido de tal maneira racional e integrada, que hoje consegue ser modelo exportado para outras cidades do mundo.

A logística trata, entre outras coisas, do transporte racional e econômico de bens (tanto insumos quanto produtos acabados). Mas ninguém diz que ela não poderia lidar, principalmente se importar, com o transporte de passageiros. Passageiros que se transformam na principal força como colaboradores da indústria e dos serviços. O fato do transporte ser, um dos principais fluxos logísticos e, no caso específico da cidade de Curitiba, uma referência mundial, esta redução de custos se apresenta como uma das primeiras vantagens obtidas.


Reduzir custos, tanto para o usuário quanto para a cidade, que reduz o volume de trânsito de veículos e todos os outros custos a ele adicionados, é o principal resultado de um fluxo, um sistema de transportes bem dimensionado. Logística é o “dimensionamento correto” deste fluxo. Isso é o que podemos ver diariamente na cidade de Curitiba e advém muito de seu sistema de transporte coletivo.

O que começou como uma análise comparativa foi, rapidamente, assumindo contornos de análise qualitativa. Mesmo a cidade de Curitiba, o alvo em questão, ser uma fração se comparada com a cidade de São Paulo, o sistema de transporte coletivo difere daquele em uso em São Paulo.


Ele funciona, e não se poderá negar que seus benefícios se espelham pela cidade toda. Não há muitas distâncias que não sejam cobertas pela malha do transporte coletivo. E isso se traduz num menor trânsito veicular particular diário como método de comutação para/e do local de trabalho. Apesar que, ultimamente, vem ocorrendo um aumento no tráfego de veículos particulares nas horas de pico.

Como modelo do serviço logístico oferecido à população pelas autoridades da cidade, ele quase que atinge seu objetivo. Quase atinge seu objetivo porque a cidade, como organismo vivo, estará sempre em crescimento. Tanto em número de habitantes quanto em área de extensão. E o sistema sempre estará tentando atingir todas estas extensões.



Referências

-- URBS - Mapa do RIT.



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terça-feira, 17 de junho de 2014

GuestArte 3: Igrejas

Seguindo a linha da "Guest Arte", tinha esta série de fotos que fiz de igrejas e templos.
Algumas foram feitas escondido pois muitos não gostam que se fotografe lá dentro. Mas, acho que os templos e, principalmente, as igrejas estão mudando de... ambience, digamos. Gostaria de poder guardá-los na memória, pelo menos, como muitas outras coisas e lugares que hoje foram "homogeneizados".
Hoje em dia, todos parecem o mesmo shopping...













Vou começar a usar um equipamento mais apropriado, prometo. Mas, como o velho Bloch dizia: "não é a ferramenta que faz o artista", vou fotografando então...


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sexta-feira, 13 de junho de 2014

Contos de Fadas Hi-Tech

Entramos no mundo de contos de fadas... fadas eletrônicas.
Esses entes tecnológicos podem (quase) tudo. É só ligar (on) o gadget que ele nunca mais desliga (off). Ficamos reféns de uma identidade virtual imaginada por nós mesmos. Enrolados numa rede pegajosa que se replica a cada ideia nova de mercado. Ou a cada iteração com outros entes iguais a si mesmos. Mas, que como outras criaturas, não mais obedece ao seu criador.


Entramos num ambiente onde há uma aceleração da irrelevância. Transformamos a impaciência em virtude. Soluções rápidas e relacionamentos efêmeros, curtir e compartilhar substituem, sem méritos nem julgamentos, o ser e estar. Encantados com o ambiente idealizado seguimos como ratos a música, sem prestarmos mais atenção ao caminho. Até quando os aparelhos, as fadas ainda na vitrine, escolherão seu comprador por proximidade. Identificando-o, por wi-fi e análise booleana prévia, quem pode ou não, adquirir a tecnologia oferecida. E se oferecendo a este ou aquele transeunte. Consumo seletivo onde o produto escolherá o comprador. Por créditos, nunca por méritos.


Do lado de cá, veremos somente o que essa análise nos ofereça. E seremos impenetráveis à diferença. Verdadeiros zumbis estratificados...
Poucos Amish escaparão... não haverá existência real sem a virtual. Se não tiveres avatar, para todos os efeitos, não existes.
Educação, papel... para quê? Podemos estudar no transporte, escrever no tablet, armazenar na nuvem.
Alma?
Será que está classificada nos bancos de dados do Google?
Será que abrimos uma janela, um canal ou caminho, por onde entramos em comunicação com... alguém, no outro lado?
E estamos usando nosso código para interpretar as mensagens que recebemos em sinais para as quais não havemos tradução?
Será que toda essa interação digital não poderia significar: "olá, tem alguém ai?"


Ou, como Gandhi suspeitava, estaremos a cometer um outro "Himalayan blunder"?


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segunda-feira, 9 de junho de 2014

On Being a Hospital Webmaster (2000)

No ano 2000, fui convidado a escrever um artigo para um portal de medicina nos Estados Unidos, o CancerLynx. Na época estava, fazia uns três (3) ou quatro (4) anos desenvolvendo -entre planejamento, pesquisa e programação- o que viria a ser o portal do Hospital do Câncer - AC Camargo, em São Paulo.

Revendo minhas anotações e relatórios antigos encontrei o rascunho de onde tirei o artigo e decidí mostrá-lo aqui.
Espero desculpem, está em inglês no original (vou deixar até os erros gramaticais).
Lá vai:

Being a hospital site's Webmaster is not an easy task...
Let me rephrase that: being a hospital site's Webmaster is a very challenging job.
Yes. That's better...

Come to think about it, a hospital is a mini-cosmos of ideas, all gathered together for just one purpose: healing.
And as such, from the very beginning the hospital website has to have a definite purpose. Though it may change during its existence, there must always be purpose. This purpose is what's going to give the site its inner structure and thus, its outer form.
Even if it is just to say: "Hey Ma, lookit me! I'm on top of the world!"
That's purpose... a rare deviation of it, but still...

And the Webmaster is the person who's going to orchestrate all the hospital's ideas into one single harmonic drive in its internet's website. Furthermore, he/she should be the liaison between html-related technology and the rest of the hospital staff.

As a Webmaster myself (I'm responsible for the http://www.hcanc.org.br - Hospital do Cancer - AC Camargo's website at Sao Paulo, Brazil), I've worked towards one single goal at a time at my hospital's site.
It's better that way. One step at a time. There's no rush. And, it's far safer, too...

How?
After a year and a half of research at the internet and data gathering at the hospital, we could finally lay out a rough simple plan of what we intended to achieve.
First, we had to show that we existed and worked hard in our field - oncology.
Second, we started showing some of our works and results. Each time we oriented our site to a specific public... First, for those who didn't know, then to those who should know.
Now we are at phase three of our original plan: we are trying to inform in such a way as to teach and make a difference along the way. Thus aiming at these who know.

Every phase brought along its own secondary projects.
  • The first phase brought the first oncology glossary in a hospital website in Brazil. It still draws many viewers and we update it as fast as we can, which normally it's not fast enough.
  • The second brought the Essays, Agenda and Protocols (the latter, not yet published) pages.
  • The third; Case Discussion and (amazingly) the Library, which rapidly became one of the ten (#5) most viewed pages of our site.

Why we did it like this?
We had a rough time getting some of these projects done. It was not all that easy. Some expected more fireworks, Java and videos, and De Millean theatricals from the start, lured by some webpages they've seen. Here's where cultural diversity stepped in. We had to think about what our country needed, first.
Basic, simple cancer information.

And how to deliver this information -- not all at once -- but at a safe speed, so everybody that read it could be equally informed.
And, informed right.

Also who would read this? In Brazil, this probably meant that part of the middle and upper classes would be the first to read us. Coincidentally, these social strata are from where most of our physicians come from. Then, our first public was roughly made up of curious high-school students and young adults. The second; bio- and med students, patients and their relatives. The most common trait was: they understood little or no English at all.
And one of the only information sources about cancer they could find, in Portuguese, was us.
And we delivered, without patronizing nor excessive technicalities.

We still receive patients from other cities and states simply because they read how we work through our pages. We also receive questions from patients and physicians alike, about cancer and oncologic treatment.
On the other hand, as we began receiving monthly visitors reports, we saw that we were getting visitors from non-portuguese speaking countries (Jordan, Israel, Japan and Italy to mention few). Today our monthly visitors second population comes from the United States. And we've had months when we get more than 50% (51.37% in 11/99) of foreign visitors.

Which led us to step up on the translation to English and Spanish of our site. Now we got almost all our site translated to English and we're translating to Spanish, fast. And then, there's another consideration to take into account: not everything that we present in Portuguese to Brazilian visitors is the same for foreigners. So we have to sort the information presented to foreign visitors in our English and Spanish mirror sites.

Not everything works out the way we intend to.
And these 'flops' are analyzed and scurried away as soon and as fast as we can.

And as it often happens with physicians at a hospital, the Webmaster might not be a single person. But, the sum of many.
When we started the website, in 1996, we were only two people working on it. And, I was still battling html code basics then, though I had worked in this area (scientific information) for more than 20 years now.
Now, we've got three people just for html coding.
And most of our data is reviewed prior publishing.


Bethancourt, L.C., On Being a Hospital Webmaster, em CancerLynx.com.




Naquele tempo a internet era por conexão discada (lembra disso?) não havia Banda Larga e, mesmo, uma ligação telefônica para o Rio de Janeiro era uma temeridade, caia a toda hora. Falava-se melhor com Manaus por telefone.
Cinco anos depois desse artigo eu 'saí' do projeto e voltei para o Ludwig no Hospital Alemão.

A equipe que formamos era coordenada e comandada pelo Dr. Humberto Torloni, sendo Presidente da Fundação Antonio Prudente o Dr. Ricardo R. Brentani. Devo confessar essa combinação de talentos e personalidades é muito rara de se conseguir. Catalizadores vivos de qualquer projeto ousado no hospital.
Minha homenagem e agradecimento a ambos.


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sábado, 7 de junho de 2014

Nós, como Gotas de Oceanos

E, inventamos o socialmente isolado, o conectado individual, onde entramos na rede pra ficarmos... sós.
Isolados como gotas de água num oceano global.
Não nos diferenciamos uns dos outros, alias essa é uma das premissas mais utilizadas na brochura convocatória: "Seja você, seja mais um!". Olhe em volta e perceba como todos somos diferentemente iguais. Nossa história, nossos fatos, nossos desejos podem ser computados e quantificados. Mensuráveis não pela qualidade, mas pela quantidade. Geramos padrões e tendências. Outliers são poucos, nem sequer suficientes para criar desvios na trajetória média. Olhamos para eles com misto de admiração, inveja e receio. São fora dos padrões, afinal. Sua falta de conformidade os levou ao lugar onde se encontram.
Desvios.


Nós, o resto, somos "comunidade" disto ou daquilo. Somos comuns... iguais... padrão. Todos vestimos o mesmo azul ou cinza uniforme. Gravamos no peito o mesmo GAP ou Nike ou Coke. Ouvimos os mesmos sons (música?) nos nossos fones. Somos a mesma propaganda de objetos e atitudes! Prestou atenção em faz quanto tempo você não vê uma moça vestindo florais?
Cabelo solto ao vento.
Sorrindo a toa?
Feliz de... simplesmente estar viva?
Uma gota feliz.

Hoje temos coisas importantes e sérias para pensar. Parece que não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar tempo com flores e risos à toa! Produzir para consumir. Para consumirmos ou consumir-nos?
Já parou para pensar; quem consome o que? O quê consumimos? Nós, sim, você e eu!
Gotas...


Toda a tecnologia multitarefa nos ajuda a focar no que realmente importa. Mas, isso não parece um contrasenso? Sermos multitarefa focados é o oposto ao ATDH (Deficit de Atenção e Hiperatividade)?

Vamos falar técnico?
Ok, lá vai.
John Keynes, em 1930, falou que os avanços tecnologicos deveriam (leia essa palavra de novo: D-E-V-E-R-I-A-M) trazer uma mudança de foco. De paradigmas, se assim o preferir.
Falou em como a liberdade que a tecnologia traria nos permitiria ocupar-nos com melhorar nosso lazer. Melhorar a nós mesmos. "To live wisely, agreeably and well" (Para viver com sabedoria, agradavelmente e bem), lembra? A tecnologia cuidaria de si própria.
Por incrível que pareça, a mesma linha de pensamentos de De Masi ou Gladwell, entre vários outros.


Mas, o que temos visto é exatamente o contrário disso. Quanto mais avança a tecnologia menos tempo temos para lazer ou evolução. E quem se ocupe com isso acaba parecendo um pária, um daqueles outliers que receamos. Quando, por fim, aceitamos essa nova dimensão oferecida (muito a contra-gosto) estamos tão exauridos que teremos pouco, se algum, tempo para desfrutar desse nosso novo conhecimento.
Isolados como gotas num imenso oceano glocal*.
...







Referências

Diener E, Seligman M., Beyond Money: toward an Economy of Well-Being
Keynes, J.M., Essays in Persuasion (Economic posibilities for our grandchildren)



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Glocal: (neologismo dos anos 80) designa local e global ao mesmo tempo, onde território físico pouco, ou nada, significa.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

RaConto


Era para ser uma cirurgia rápida.
Coisa de uma hora, duas no máximo.
Mas, tinha que chegar antes, bem antes, para eles terem certeza.
Preparativos e tal.
Eu, prevendo o que viria, tinha feito uma higiene radical no local e suas imediações.
Só não tinha raspado mais porque doía, era incômodo, e achei que não era preciso exagerar na coisa.
Encurtando a história: internei-me barbeada.
Me deixaram num quarto sozinha com as vestimentas para cirurgia.
Sabe aquele roupão que a gente põe ao contrário?
Passamos a vida toda aprendendo a vestir-nos e quando menos esperamos -pimba- descobrimos que podemos fazê-lo de outro jeito.
Errado.
Bom, troquei e deitei esperando amanhecer e começar a cirurgia.
Doida para dar um fim nesse sofrimento mensal que me inutilizava doloridamente.
Tinha uma coleção de miomas e sangrava abundante quando entrava nos periodos menstruais.
- "Tiramos tudo e acabamos com isso" - foi a recomendação peremptôria da ginecologista, "Já sofrestes demais, não precisas mais disso."
- "Então tá" - disse, concordando plenamente que era dor demais todo mês para suportar.
- "Cirurgia, na semana que vem", disse, "nem um minuto mais!"
- "Sim..." Achei que seria inútil resistir a um convite tão... tão... sei lá.
Lá estava eu, deitada, coberta e... com frio.
Um frio vinha de dentro. Além do frio de fora.
Aqui na cidade de manhã, no verão é frio, no inverno então...
Quase dormia quando suavemente abriu-se a porta.
Uma enfermeira de certa idade incerta entrou trazendo o que me pareceu uma bagette de couro marrom sob o braço.
Acordei, ou acho que acordei.
- "Bom dia, querida!" disse ela. "Vim completar os preparativos para sua cirurgia".
- "Abra as pernas por favor, sim", me pediu cortesmente.
Enquanto obedecia, ela abriu o zipper da "baguette" e escolhia suas ferramentas, como um golfista de torneios escolhendo um dos ferros ou madeiras para sua proxima tacada genial.
Deu uma olhada rapida no local e voltou-se à sua baguette.
Acho que foi mais para quebrar o gelo do que por cortesia profissional que disse: "Em todos estes anos tenho visto cada coisa..."
A minha "coisa" devia ser uma delas?
Nem sabia que existia essa especialização na medicina.
Eu acreditava que aquele "Hitlerzinho" de araque que tinha sobrado não faria diferença.
Acredito que ela não acreditava nem em Hitler.
Voltou da baguette com o que me pareceu uma navalha de barbear de cabo nacarado, como aquelas dos barbeiros dos anos 50.
E de muita capa de jornal, na seção policial.


A geografia do local não é das mais fáceis e me pareceu temerário essa navalha passear-se pelo Hitler que havia deixado para trás na minha toilette.
Ela se aproximou, acompanhada da navalha na mão que segurava -certamente- numa posição que devia ser técnica cirúrgica antes de Galeno nascer.
Ela se aproximou mais... e eu esquecí minhas orações favoritas!
Que digo as favoritas, esquecí de todas elas!
Tinha alguém com uma navalha nacarada lá na minha coisa!
Um movimento ágil do punho. Um ventinho gelado. Um susto.
Uma ilusão.
Ela se endireitou, levantou, limpou a lâmina da navalha. Dobrou-a e guardou profissionalmente na baguette.
E acabou!
- "Só isso?" perguntei incrédula.
- "É, não foi das mais difíceis. Tenho tido cada Rasputin aqui que me cansa. Você foi fácil", respondeu enquanto fechava a baguette.
- "Raspuquem?" me atreví a pensar em voz baixa, recuperando o fôlego perdido.
Ainda teve o desplante de tirar um espelhinho do bolso, daqueles de mão, e me mostrar o efeito do seus serviços.
O Hitler tinha dado passo a um Kojak de seriado de televisão.


A cirurgia? Essa correu bem, obrigado.
Só doi quando rio de pensar na navalha de cabo nacarado.
...
E das coisas que deve ter visto.
E dos Rasputins que passaram por ela.