sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Quem tem medo do Populismo?


Populismo [De popul(o)- + ismo.] S. m. 1. Gênero literário que procura seus temas no povo. 2. Bras. Simpatia pelo povo. 3. Bras. Política fundada no aliciamento das classes sociais de menor poder aquisitivo.


O termo Populismo possui várias conotações dependendo do contexto. Geralmente é utilizado, principalmente na América Latina, para designar um conjunto de práticas políticas que consiste no estabelecimento de uma relação direta entre as massas e uma liderança política sem a mediação de instituições políticas representativas, como os partidos, ou até mesmo contra elas, empegando uma retôrica que apela para figuras difusas ("o povo", "os oprimidos", "as massas").
A política Populista caracterisa-se menos por um conteúdo determinado do que por um modo de exercício do poder.


O Populismo costumava ter sentido pejorativo, sendo usado como arma de combate discursivo, para a desqualificação do oponente. Historicamente, no entanto, o termo tornou-se uma força importante na América Latina.

"Como descrevem Max Horkheimer e Theodor Adorno, as promessas de emancipação e de democratização da modernidade caminham de mãos dadas com novas opressões, de modo que sociedades liberais e democráticas tendem a se tornar mais autoritárias em seu caráter, tendo em vista a saturação tecnocrática e burocrática de suas estruturas" (Morelock e Narita, 2018).

Ernesto Laclau, teórico político argentino, argumenta que o populismo é a melhor forma de organização política porque oferece um maior espaço e representatividade às classes usualmente excluídas. "O populismo não é ruim ou bom em si mesmo. É uma forma de construção da política, baseada na criação de uma divisão na sociedade por meio de demandas sociais. Isso ocorre quando as instituições não conseguem atender às demandas populares", diz.

O Populismo moderno é outra coisa precisamente porque recolhe e atualiza elementos típicos do populismo norte-americano de fins do século XIX, que girava sobre quatro ideias gerais, definidas por Michael Kazin (em The Populist Persuasion)
  1. São americanos, filiação esta assentada sobre os valores democráticos inalienáveis;
  2. Não representavam um grupo definido, mas todo o conjunto;
  3. Seus inimigos eram as elites; e
  4. São movimentos, grupos sempre em mudança

Por exemplo, quando Kazin no seu "A Persuasão Populista" (2017) argumenta persuasivamente que: "o poder do populismo reside em sua natureza adaptável". Em todo o espectro político, os comentaristas colam o rótulo de forças e indivíduos que realmente têm apenas uma grande coisa em comum: são eficazes em atacar "as elites" ou "o establishment", por prejudicar os interesses e trair os ideais do "povo" em nações comprometidas, pelo menos oficialmente, com os princípios democráticos."


No Brasil, o fenomeno populista corresponde a uma manipulação das massas, por parte do lider carismático, mas também a uma satisfação de aspirações longamente acalentadas por essa. Aconteceu com Getúlio, com Kubitschek, com Jánio, com Neves até, e ultimamente, com Lula. Primeiro acontece a identificação, depois, "all hell breaks loose!" Veja que são diferentes entre si, e suas agendas particulares nem sempre tem a ver com todos os interesses do "povo".

E o que é muito comum, é ver como muitos missivistas e articulistas usam o termo "populismo" com um sentido errado para justificar o próprio discurso. Não se dando ao trabalho de explicar motivo ou razão. Nem mesmo quando o populismo é utilizado pelas forças reacionárias, que insistem em manter o status quo.


Então, quando falo "Populista" ou "Populismo" não o faço pejorativamente nem de forma simplista. Atesto o fato de que esta seria a única forma de participação por grande parte do "povo" ou daqueles que formam o corpo da nação (acorda gente!!) na decisão do seu futuro. Pois democraticamente, nenhum dos três corpos oficiais, ditos representativos, o faz. Eles não representam ninguém a não ser a si próprios! Entre vários exemplos, este: aumento de 16,x % sobre um salário de mais de R$ 33 mil, enquanto "o povo" sobrevive com um mínimo de pouco mais de R$ 900.
Me diga, quem representa quem?

O povo não tem ideologia porque - nos exemplos que temos visto - é muito mais fácil não ter memória. Qualquer convocação adocicada ou aboio ritmado o tange. Nem sempre na direção certa e, não necessariamente, em benefício de seus próprios interesses.
Não reconhecem "autoridades constituídas" porque estas nunca se incomodaram com eles. A imagem que ambos têm do outro é distorcida e monstruosamente distópica.

Quando, por fim, acordados por uma imagem catalizadora, na figura de caudilho ou lider, e este, independente de qualquer corpo representativo, chamar para si o dever de liderar as massas, teremos o Populismo.

Até quando acham, os tais corpos representativos, que poderão impedir o povo de tomar para si as rédeas do seu próprio destino? Deem-lhe foco e comecem a correr.
Vejam as massas correndo! Acho bom você correr também!
See Spot run. Run Spot, run!



terça-feira, 7 de agosto de 2018

Chapter One


"...
Chapter One...
I am born.
Whether I shall turn out to be the hero of my own life, or whether that station will be held by anybody else, these pages must show. To begin my life with the beginning of my life, I record that I was born (as I have been informed and believe) on a Friday, at twelve o'clock at night. It was remarked that the clock began to strike, and I began to cry, simultaneously.
..."

Mentiram, segundo os calendários, foi numa quinta feira 27, às 06 da madrugada. Quase no meio do século xx.
Antes de poder argumentar qualquer coisa, minha avó me embrulhou "en cueros" e me mostrou aos Deuses, avisando-lhes que estavam atrasados.
Atrasados... olha só.
Sem conhecer poesia, fiquei calado, fingindo dormir cansado. Não fosse falar bobagem e estragar o momento da vó.