quarta-feira, 27 de novembro de 2019

"The Public be Damned"

“Estamos acostumados a ver a história da nossa atividade econômica como uma arena de restrições impiedosas, na qual escassez, necessidade, dependência e coerção desempenham os papeis principais. Da perspectiva do surgimento da economia do conhecimento, entretanto, a vida econômica pode também ter sido, desde sempre, uma história do avanço acidentado e turbulento da imaginação” (Mangabeira Unger, 2018).

Contextos Históricos
Diferentemente do descrito pela Profª Terra, no seu artigo: “Redes e Mídias Sociais: Desafios e Práticas no Contexto das Organizações”, foi William Henry Vanderbilt e não John D. Rockefeller, quem pronunciou a frase: “The public be damned”, em 8 outubro de 1882. Frase esta que, tirada do seu contexto, criou um dos piores desastres de relações públicas que se tem conhecimento. Foi a partir dos desdobramentos dela que Rockefeller contrata o jornalista Ivy Lee para, então sim, assentar as bases do que conhecemos hoje como Relações Públicas.

Do Yellow Press ao Factoide
Desde que Ivy Lee começou, em 1914, o seu relacionamento com a imprensa, divulgando informações favoráveis às empresas, sob a forma de notícias começaram as atividades e técnicas de relações públicas no mundo.

Pouco antes disso tinha havido a disputa entre os grandes meios de comunicação americanos comandados, de um lado por William Randolph Hearst do New York Journal, e do outro, por Joseph Pulitzer do New York World. Ambos querendo, com pouca ou nenhuma notícia legítima e bem pesquisada, ao mesmo tempo em que usavam manchetes atraentes, aumentar as vendas dos seus jornais. A verdade pouco importava, as empresas, e seus monopólios, podiam tudo.

Mesmo o relacionamento de Lee com os Rockefeller não foi assim tão fácil. Este último, como gestor empresarial, tinha ideias muito particulares sobre como gerir seu império. E o “damned be the public” poderia muito bem ser atribuído a ele. Era um contexto de comunicação unidirecional, não havia espaço para o contraditório, não haviam negativas. Toda construção desta comunicação era direcionada para um público externo, que não necessariamente eram os seus trabalhadores, que eram duramente oprimidos pelas formas e jornadas de trabalho.
Tanto que, para Lee, depois de algum tempo, estes preceitos eram importantes:
  1. Ele era contrário ao segredo corporativo;
  2. Acreditava em ser honesto com os jornalistas;
  3. Não suprimia notícias;
  4. Achava que a razão da RP não era enganar o público;
  5. A performance das corporações deveria estar à altura dos padrões adequados pela RP para a corporação.

Dos Factoides aos Fake-news
Aos poucos, a comunicação, vai se transformando no elemento estratégico da gestão dos ambientes corporativos. Temas como vantagens competitivas, agregação de valores, diferenciação e inovação, e a forma como estes trafegam no ciberespaço, impactam diretamente as atividades dos profissionais de comunicação .

Segundo Terra, no Brasil, essa situação é mantida até meados da década de 80, no período pós-ditadura. A comunicação passou a conter elementos audiovisuais, que favoreceu ir além da divulgação de produtos para incluir a construção de uma imagem positiva diante dos seus públicos. Os anos 90 e início dos 2000, trazem um reequilíbrio de forças com o surgimento da internet e sua consequente produção e compartilhamento de conteúdos diversos. A comunicação, que até então navegava de forma unidirecional, ganha vias e ambientes interativos. Deixa de ser restrita ao ambiente organizacional e passa a se relacionar com públicos e interesses diversos.

No ambiente de redes, surge o conceito do influenciador, colaborativo e horizontal, mais do que a, até então conhecida, pirâmide de influências. O consumidor como criador de interesses, divulgador de gostos e lançador de modas. Surgem os “prosumers” – a mistura do “produtor” e “consumidor”. O público reativo, e que antes era chamado de mercado, hoje cada dia maior e mais interligado, transformando-se, quase em uma força da natureza, capaz de ignorar ou exaltar campanhas mercadológicas. Acreditar em propagandas políticas que irão moldar sua vida e a dos seus pares por anos a fio. Um “quase-ser” que só encontra ente parecido na ‘psico-história’ postulada por Seldon na série “Fundação” de Isaac Asimov , de 1942 a 1944.

Estamos parados na soleira do tempo. Até agora ficamos acumulando informações, enquanto o mundo lá fora continua a mudar. Ter informação deixou de ser diferencial competitivo, característica do Século XX. Hoje, nas primeiras décadas do século, quem não souber se ajustar aos ambientes/contextos fluidos, que esta informação lhes mostra -eis a caraterística do Século XXI- estará perdido.
O Século XXI será o de aprender a lidar com as incertezas .

Então, o "public be damned", adquire um novo significado quando passa a descrever não mais "eles", mas "nós todos".



sábado, 16 de novembro de 2019

Malba Tahan

Lembro de uma história, acho que do Malba Tahan, exímio contador de histórias do tempo de Getúlio. 
O Livro do Destino.


Era mais ou menos assim:
- "diz-se que o Livro do Destino aparece a cada 1.000 anos em um lugar diferente. Ninguém sabe qual lugar. E aparece por uma hora. Eis que uma vez, alguém calhou de estar no lugar certo, na hora certa, quando o livro apareceu.

Percebendo o portento que estava a presenciar, e a imensa sorte que o acaso lhe brindava, procurou uma página em branco e começou a escrever. Escreveu detalhado as tristezas que o seu vizinho teria na vida. Tão entretido ficou, imaginando a cara do vizinho, que esqueceu de escrever as alegrias que ele próprio teria.
O tempo se esgotou e ele se viu fora e longe do alcance do livro.

Muitos de nós passamos a vida, tão ocupados, escrevendo a tristeza do nosso vizinhos, que esquecemos de escrever nossas alegrias.
Às vezes aprendemos isto muito tarde.

sábado, 9 de novembro de 2019

A vanguarda ficou para trás

Minha geração acordou, faz pouco tempo, assombrada porque nossos filhos não acreditam mais em Deus. "Mão pequenina no couro bate até couro doer" (Ogan Erê, Lenine).

(As crianças) Expostas à tecnologia desde sempre, crescem sem culpa, vendo nos circuitos impressos e aplicativos baixados, as respostas metafísicas de questões sem sentido. Um bigo de Deus rápido e imediato, responde de novo aos novos Peris e Sacis, soluções de vanguardas passadas.


Cada frase significa e resignifica dependendo do contexto, da lembrança ou da bagagem individual. Quando esta existir. Muitas teses originais mal passam de revisões bibliográficas ou constatações de obviedades. Ecos de vanguardas mortas.

Quando por fim transformemos: bibliotecas, museus, livrarias, centro culturais, thinktanks, teatros e salas de aula e concerto, em algo parecido com um shopping, o conceito de ágora, será mais fácil de entender e aplicar. A troca de informações e o germinar de novas idéias será potencializado.

A execução deste conceito não é tão difícil assim. Veja como livrarias, cinemas e teatros já coabitam os shoppings do mundo. Ocupar os 'espaços vazios' com outros ambientes culturais é um passo, dois. Transformar o ir ao Shopping comprar, ver e ser visto, em ir ao Centro aprender, ver e mostrar,. Serão equivalentes.
Novas gerações acordarão assombradas e assombrando.