terça-feira, 20 de outubro de 2015

Mercados em Campanha

Faz alguns meses escrevi o texto a seguir, inocentemente achando que acabaria por ali.
Os desdobramentos (as in ripples) se fizeram sentir mais evidentes e claros. Porém deixando fugazmente a descoberto intenções escondidas. Por isso, antes de esquecer, volto ao tema...



Acabaram-se, por fim, as campanhas políticas para eleger funcionários do executivo. 
Que alívio...  Bom, nem tanto assim.
Agora começa o desmonte de uma máquina e a montagem de outra muito diferente. O "set up" logístico que poucos conhecem e muito menos imaginam que consuma muitos recursos (tempo, dinheiro, e principalmente, mão de obra).
Estratégia, segundo Mintzberg, trata-se da forma de pensar no futuro, integrada no processo decisório, com base em um procedimento formalizado e articulador de resultados.
Essa é a simplificação que consta no Wikipédia.
Mas, cada um tem sua própria definição para o que seja "estratégia" e, muitos mais, sobre como aplicá-la. Vemos estratégias sendo praticadas (sim, pois são fluidas, não fixas, logo se praticam. Essa é minha definição pessoal) todos os dias. Seus objetivos definem seus processos e, às vezes até se confundem com eles. Quase como no jogo do ovo e a galinha; quem chegou primeiro?



Pequeno aparte; não podemos ser complacentes com o que está errado. Temos que adotar limites de ética de execução na estratégia. Há, certamente, formas corretas de fazer as coisas, até mesmo na política. Ainda que pareçam impossíveis. E ainda, os limites são claros entre a ignorância e a contravenção. Corrijo-me: entre a conivência e o crime. O corrupto é tão culpado quanto o corruptor. E, ambos devem ser responsabilizados pelos seus atos de acordo com o crime cometido. Não importando, idade, gênero nem conta bancária. Todos nascemos iguais, que alguns queiram ficar mais "iguais" que os outros é um desvio de comportamento, usualmente, chamado: ganância.
E confundido com ambição.
Feito isto, voltemos à nossa programação rotineira...



Começam as retaliações.
O Congresso hoje recusou o primeiro ato da Presidenta Dilma, reeleita na ultima semana. O motivo alegado para a recusa; a interferência nos "poderes" da Casa. Traduzindo em miúdos, muxoxos de ressentimento pelo resultado das urnas nos respectivos estados dos congressistas. Alguns sentiram-se abandonados pela estrutura do governo durante a campanha eleitoral, outros traídos nas suas pretensões políticas. Outros, perderam, pura e simplesmente, o pleito em questão. E exigem a revanche, melhor de três, etc.
Em qualquer um dos casos, aliados transformados em opositores. Opositores transformados em Salvadores da Pátria.

Outrora aliados, aqui não importava qual o tema apresentado, nem sua repercussão, sua posição seria invariavelmente a contraria. Mostrar ao governo seu desgosto e postura pessoal. Não mais fingindo-se representantes do povo, mas como indivíduos isolados, frustrados nos seus interesses mui particulares. Sob justificativa discutível recusaram proposta que incentivava a maior participação popular na gestão politica (sic). O importante são eles; os políticos de carreira.
Mutatis mutandis, sempre e quando... tudo permaneça igual.

A Casa do Povo transformou-se em verdadeira Caverna do Alí Babá, enquanto interesses particulares são postos para secar como roupa suja lavada em rio, regato, veio d´água, na tinturaria.
(Porque a água acabou!)

E ainda dizem que o jogo é proibido no Brasil, aqui enquanto roubas ou recebes propina por assinar -ou por não assinar, dá na mesma- tu ganhas e, se és pego com a mão no erário, recebes o benefício da 'Delação Premiada'. Algo só comparável ao prêmio do BBBn, com direito a cartão de 'Saia da Cadeia Livre e não pague, nem devolva o que roubou'.
No fim, serás re-eleito mesmo por outro estado qualquer.

Os outros escândalos, correntes e diuturnos, são aqueles que, num movimento em espiral vem sendo agendados por interesses velados aos olhos do país. Se prestarmos atenção poderemos ver padrões que conduzem -sempre- para fora. Quem se beneficia da exposição e cobrança são os mesmos agentes de sempre; inomináveis grupos de interesses particulares. Exemplares das tais "Forças Ocultas", cantadas por Quadros.

Não defendo que eles (escândalos) não existem. Existem e temos que dar um basta de qualquer maneira. Acabar com essa ferida que nos sangra, e acabar com quem nos fere. Mas, cuidado. É só seguir o desenvolvimento e prestarmos atenção em quem será o beneficiado final. O País, o povo, nós, o mercado, quem? É um campo minado isto. E estas minas não são de fabricação nacional!
Cuidado.

Tudo se reduz a Poder. E Poder vem do dinheiro, e o dinheiro vem... do mesmo lugar de sempre; nós que pagamos. Não nos iludamos: somos veiculo de dinheiro. Não precisamos tê-lo, é só fazê-lo fluir. Esse fluxo nos mantêm vivos, com esperanças para poder passá-lo à frente. Alguém nos passa e nós passamos para alguém que passa para... como no antigo brinquedo infantil. Não somos fim, somos meio.
Alguns, somos menos ainda.
Brasileiros...





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sábado, 10 de outubro de 2015

O Ovo - Andy Weir (autor)


The Egg
Written by Andy Weir
Translated by Carlos Buosi

Você estava a caminho de casa quando morreu.
Foi em um acidente de carro. Nada muito chamativo, mas infelizmente fatal. Você deixou sua esposa e duas crianças. Foi uma morte sem dor. Os para-médicos tentaram de tudo para te salvar, mas em vão. Seu corpo foi completamente destruído, você já esteve melhor, pode acreditar.
E foi aí que você me conheceu.
"O que-... o que aconteceu?" Você perguntou. "Onde estou?"
"Você morreu," Eu disse, com naturalidade. Não fazia sentido conter as palavras.
"Havia um caminhão.. e ele derrapou.."
"Isso aí," Eu disse.
"Eu.. Eu morri?"
"É. Mas não se sinta mal. Todo mundo morre," Eu disse.
Você olhou em volta. Não havia nada. Só eu e você. "Que lugar é esse?" Você perguntou. "Isso é o paraíso?"
"Mais ou menos," Eu disse.
"Você é Deus?" Você perguntou.
"Isso ai," Respondi. "Eu sou Deus."
"Meus filhos... minha mulher," você disse.
"O que tem eles?"
"Eles ficarão bem?"
"É isso que eu gosto de ver," Eu disse. "Você acabou de morrer e sua maior preocupação é a sua família. Isso é mesmo uma coisa boa."
Você olhou pra mim com um certo fascínio. Pra você, eu não parecia com Deus. Eu aparentava ser um homem qualquer. Ou uma mulher. Uma figura autoritária meio vaga, talvez. Mais como um professor de português do que o Todo Poderoso.
"Não se preocupe," Eu disse. "Eles ficarão bem. Seus filhos lembrarão de você como um pai perfeito em todos os sentidos. Eles não tiveram tempo de sentir algo ruim por você. Sua mulher vai chorar, mas vai ficar secretamente aliviada. Pra ser sincero, seu casamento estava desmoronando. Se serve como consolo, ela vai se sentir muito culpada por se sentir aliviada."
"Ah.."Você disse. "Então o que acontece agora? Eu vou para o Céu, pro Inferno ou alguma coisa do tipo?"
"Nenhum dos dois" Eu disse. "Você vai reencarnar."
"Ah," você disse. "Então os Hindus estavam certos,"
"Todas as religiões estão certas de alguma forma," Eu disse. "Venha comigo."
Você me seguiu enquanto caminhávamos pelo vazio. "Aonde estamos indo?"
"A lugar nenhum específico," Eu disse. "Só gosto de andar enquanto conversamos."
"Então que sentido isso faz?" Você perguntou. "Quando renascer, eu vou esquecer tudo, não é?" Um bebê. Então todas as minhas experiências e tudo que fiz nessa vida não significaram nada."
"Não é por aí!" Eu disse. "Você tem dentro de você todo o conhecimento e experiências de todas as suas vidas passadas. Você só não lembra dessas coisas agora."
Eu parei de andar e coloquei as mãos em seus ombros. "Sua alma é mais magnífica, linda e gigantesca do que você possa imaginar. Sua mente humana pode apenas entender uma pequena fração do que você é. É como colocar o seu dedo em um copo de vidro e ver se está quente ou frio. Você coloca uma pequena parte de você em jogo, e quando tira, você percebe que aprendeu tudo que podia por lá.
Você foi um humano nos últimos 48 anos, então ainda não deu tempo de você perceber o resto da sua imensa consciência. Se nós ficarmos aqui por muito tempo, você começará a lembrar de tudo. Mas não faz sentido fazer isso entre cada vida."
"Quantas vezes eu já reencarnei, então?"
"Ah, muitas. Muitas e muitas. E em muitas vidas diferentes." Eu disse. "Dessa vez, você será uma camponesa chinesa no ano 540 D.C."
"Es-espera aí, como?" Você gaguejou. "Você está me mandando de volta no tempo?"
"Bem, tecnicamente. Tempo, da forma como você conhece, só existe no seu universo. As coisas funcionam de outro jeito de onde eu venho."
"De onde você vem?" Você disse.
"Ah claro, " Eu expliquei "Eu venho de algum lugar. Um lugar diferente. tem outros como eu. Eu sei que você quer saber como é lá, mas honestamente, você não iria entender."
"Ah," Você disse, um pouco desanimado. "Mas espera. Se eu reencarno em diferentes lugares no tempo, eu poderia ter interagido comigo mesmo alguma vez."
"Claro. Acontece o tempo todo. E já que as duas pessoas tem apenas consciência da sua própria vivência, você nunca sabe que está acontecendo."
"Então, qual é o sentido?"
"Tá falando sério?" Perguntei. "Sério? Você está me perguntando o sentido da vida? Isso não meio clichê?"
"Bem, é uma pergunta plausível," Você persistiu.
"Eu te olhei nos olhos. "O sentido da vida, motivo pelo qual eu criei todo o seu universo, é para que você amadureça."
"Você tá falando da humanidade? Você quer que nós amadureçamos?"
"Não, somente você. Eu fiz todo esse universo para você. Para que em cada nova vida você cresça, amadureça e se torne um intelecto maior."
"Só eu? E as outras pessoas?"
"Não há mais ninguém," Eu disse. "Nesse universo, só existe você e eu."
Você me olhou com um olhar vazio. "Mas e todas as pessoas da Terra..."
"Todos são você. Diferentes encarnações de você."
"Que? Eu sou todo mundo?"
"Agora você está entendendo, "Eu disse, te dando uma tapinha nas costas.
"Eu sou todo ser humano que já viveu?"
"Ou quem irá nascer, sim."
"Eu sou Abraham Lincoln?"
"E você é John Wilkes Booth, também, " Completei.
"Eu sou Hitler?" Você disse, horrorizado.
"E também é os milhões que ele matou."
"Eu sou Jesus?"
"E também é todos que o seguiram."
Você ficou em silêncio.
"Toda vez que você enganou alguém, " Eu disse, "você estava enganando a si mesmo. Cada ato de bondade que você teve, foi feito para consigo mesmo. Cada momento feliz e triste que você teve com qualquer pessoa foi, e será, aproveitado com você."
Você ficou pensando por um longo tempo.
"Por quê?" Você me perguntou. "Por que fazer tudo isso?"
"Porque algum dia, você será como eu. Porque é isso que você é. Você é um dos meus. Você é meu filho."
"Nossa," você disse, incrédulo. "Quer dizer que sou um Deus?"
"Não, ainda não. Você um feto. Você ainda está crescendo. Quando tiver vivido todas as vidas humanas em todas as eras, você terá crescido o suficiente para nascer."
"Então todo o universo," você disse, "é somente..."
"Um ovo." Respondi. "Agora é hora de você ir para sua próxima vida."
E eu enviei você de volta.
...

Pronto.