quinta-feira, 21 de julho de 2016

A corrupção é privada, o castigo é social

(Cebolas - 25 de outubro de 2014)

Estamos tão acostumados a olhar e descartar o que não entendemos ou não queremos ver, que mesmo com as imagens à nossa frente, nos iludimos. Não vemos. Insistimos em não querer ver o que está postado bem à nossa frente.

Venho escrevendo sobre movimentos paralelos ao centro da atenção pública. Miragens e alucinações típicas de um nefelibata.

Recentes posturas, situações e atitudes, escondem ranços maniqueístas. E nestes últimos, agendas particulares, não mais altruístas. Quanto mais prestarmos atenção, mais detalhes reconheceremos.
E, não veremos.

Escrevi faz algum tempo sobre como o mercado recebia e se ajustava, ajustando ele mesmo, os resultados dos procedimentos político-sociais no país. Aceitava ou não, resultados e nomeações de oficiais no Executivo. Mostrava seu agrado ou repulsa pelos movimentos mais evidentes de preços no mercado especulativo. Isto desencadeia, lógico, respostas e análises de profissionais 'da economia'. Arautos muitos, tradutores de melodias e canções estrangeiras.

Quem não prestou atenção no lá-lá-lá ensandecido, a la Sinatra senil, do Executivo?
Aos hipócritas e detalhados ritos preciosistas do Legislativo ou à carga da cavalaria setorizada do Judiciário, fingindo pegar a si mesmo de surpresa?
"Não sabia de nada" ou "Sou inocente", e vazamentos cirúrgicos se juntam a delações com prêmio, extorquidas de prisioneiros escolhidos a dedo.
Justiça movida a bacalhau do Chacrinha.
Ninguém viu.
Ninguém?

Neocolonialismo?

Não, neoliberalismo, lembra dele? Aquele que diz que, "sem uma grave crise, real ou imaginada, não haverá mudança". Bem, acostume-se aos seus novos cantares, resultado de manipulação midiática como antes nunca se viu. Herr Göebels ficaria orgulhoso, se o plano fosse dele, mas não é. O buraco é mais embaixo.
Nem o braço executor é senhor, ele serve outrem, não se enganem!

A mudança acontecerá - sempre e quando - tudo permaneça igual. Preste atenção, criatura!

O tumor extirpado junto com margem de segurança, sem recomposição das áreas produtivas, está paralisando todo um país.
Até que enfim uma luz no fim do túnel, ontem escutando um comentário do prof. R. Sennes, da USP, disse que "deveria-se culpar ou castigar o corruptor e ao corrupto, o desonesto na empresa, mas não desmantela-la, já que ela faz parte de um 'elemento social' maior aos desonestos".

Explico, todas as grandes empresas empreiteiras que têm aparecido no noticiário policial incluídas na Operação Lava-Jato, tiveram suas atividades paradas. Quase todas elas cessaram, por acefalia, o grosso das suas funções. Significa que no desmonte desta estrutura social, repito, os trabalhadores, e as pessoas ligadas a elas, e que não participavam dos esquemas corruptos, simplesmente não têm mais empregos.
Ficaram sem fonte de rendas.
O emprego acabou.
L'Horror!

Logo, uma parte dos índices advindos dessa nova situação, tipo: "aumento do desemprego, 11 milhões de desempregados!", poderiam também ser contabilizadas ao afã maniqueísta dos novos "Salvadores da Pátria".

E, ainda tem mais.
Toda a cadeia produtiva ligada a essas empresas fica estagne! E a cadeia produtiva ligada à estas, também ficará! Percebendo isto foi que escrevi: "A corrupção é privada, o castigo é social". Pois os únicos beneficiados neste fluxo de coisas todo serão: os corruptos/corruptores.
E ninguém se pronuncia, nem ocupa primeiras páginas da mídia, faz passeatas na Av. Paulista ou na Candelária. A Globo não anuncia? Ninguém bate panelas?
Ninguém?

Sei lá... pelo menos o Sakamoto escreve no blog dele.