quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Fera Neném

"Respaldada por mais de 54,5 milhões de eleitores a Presidenta Dilma Rousseff..." começava o comentarista televisivo  sua curta análise sobre a nova situação que se descortinava após o dia da eleição. Um pleito renhido até as últimas horas do certame, com direito a dedo no olho e xingamentos à progenitores de ambos os lados. Os números da eleição, matematicamente, mostraram uma divisão quase diametral do eleitorado no país. Paradoxo interessante se bem analisarmos as propostas do candidato perdedor. E, mesmo, as propostas dos outros candidatos perdedores, também.
Como explicar o resultado da votação, que quase nos leva a um terceiro turno inesperado?

Ainda na sua primeira entrevista, já como Presidenta (Presidenta pode sim!) reeleita, teve que driblar insistentes perguntas inoportunas da jornalista do plantão sobre nome e perfil de futuros ministros disto e daquilo. O termo "pescotapa" me veio à cabeça e, acredito que, pelo sorriso tigresco dela, também passou por lá.
Você já viu um tigre sorrir? William Blake fez uma descrição em um dos seus poemas, muito ilustrativa. Tivesse antes visto este sorriso, teria sido uma descrição bem melhor. E esta foi a tônica do tratamento dado pela mídia à Presidenta em exercício e reeleita.
Minto, me desculpem, essa entrevista foi "amistosa".



O que vimos anteriormente, durante o desenrolar das campanhas, foi um rosário de acusações e denúncias. Bombásticas edições requentadas e confusas, sem pé nem cabeça que, à analise mais detalhada, mostravam ranço diverticionista e partidarista. Odorico me ajuda na empreitada. Premiações por delações a comprovados, e reincidentes, delinqüentes de terno e gravata eram as provas principais e os recheios dos dossiê apresentados semanalmente pela mídia opositora.
A trama é complicada. Seus objetivos se alastrariam em várias direções ao mesmo tempo. Conseguir mostrar falcatruas e desonestidades executadas por membros do executivo (deste!) em conluio com elementos da iniciativa privada. Benefícios particulares e desvios do erário em detrimento da união como um todo. Enfim, o menu de sempre que se dá rédeas soltas à ganância. Inuendos e conspirações eram mero detalhe das informações publicadas. Verdadeiros "Samba" do Stanislaw, com o fim de confundir incautos e curiosos e, ao mesmo tempo, vender semanários.
Até agora, reduzindo as informações mostradas ao essencial minimo possível, ainda não se comprovou nada.
"Amanecerá y veremos", já dizia minha avó.

Dentre as múltiplas falhas das quais o candidato, ou melhor, a candidata da "posição" ao governo era imputada, a mais grave diz respeito a má gestão da maior, e principal, empresa estatal: a Petrobras.
A empresa foi criada pelo então Presidente, Getúlio Vargas, em 3 de outubro de 1953, tem uma produção de pouco mais de 2 milhões de barris de petróleo por dia. Nasceu depois de disputas contra interesses estrangeiros (leia-se: norte-americanos) lideradas pelo general Horta Barbosa.

A Petrobras estava em 2011 no quinto lugar na classificação das maiores petrolíferas de capital aberto do mundo. Em valor de mercado, é a segunda maior empresa do continente americano e a quarta maior do mundo, no ano de 2010. Em setembro de 2010, passou a ser a segunda maior empresa de energia do mundo, sempre em termos de valor de mercado, segundo dados da Agência Brasil. Desmontar um prêmio deste calibre leva tempo. E preparação. Não é para corações fracos.


Mas, seguindo o brevário neo-liberal e prestando atenção a interesses econômicos e estratégicos, a venda da empresa seria um prêmio muito tentador para deixar passar. Ela é um aglutinador de paixões que somente poderia ser quebrado por uma causa grave. O governo disposto a desfazer-se dela sofreria retaliações de lados anteriormente opostos e antagônicos. Antes de ter que passar arnica para as dores, melhor fazer prosélitos...


E nada como ganhar prosélitos no grito! "Sou fera neném", me vem à cabeça. O resto a gente faz tranquilo. Aló, aló, gatas, gatinhas e cachorrões! Vote em mim pra Presidente!





Se eu for presidente, você vai se dar bem...


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domingo, 26 de outubro de 2014

Campanhas de mercado*

Acabaram-se, por fim, as campanhas politicas para eleger funcionários do executivo. 
Que alívio...  Bom, nem tanto assim.
Agora começa o desmonte de uma máquina e a montagem de outra muito diferente. O "set up" logístico que poucos conhecem e muito menos imaginam que consuma muitos recursos (tempo, dinheiro, e principalmente, mão de obra).


Poucos eleitores, mais por uma ignorância atávica do que por maldade, sabem que a escolha não acaba na eleição. É uma pedra jogada num espelho de água (naqueles lugares onde ainda há água suficiente para formar espelhos d'água, claro). As ondas se replicam e as sentiremos por vezes mais de quatro anos regulamentares.

(Re)Clamam aos céus e Deuses quando suas escolhas mostram-se erradas. Ou então, quando uma vez eleitos, os eleitos mostram seus verdadeiros interesses. Já falei que temos um pequeno defeito: a ganância endêmica?
Ricos querem ficar cada vez mais ricos e os pobres querem ser rico$. Pequenos desvios aqui e ali, mas basicamente é isso.
Uma vez tirado isto do caminho, podemos continuar.

As campanhas que acabamos de aturar (sim, pois somos por lei corporativa, obrigados a ceder nosso tempo, na esperança de não prestarmos atenção devida ao que propõem) foram de um desvio proposital de intenções e métodos. Marketeiros profissionais agindo como estagiários na administração com orçamentos astronômicos. Lembra daquele slogan: "Plante que o João garante"? Ele sofreu, neste caso, uma pequena modificação: "Gaste que o João garante". O 'João', no caso somos eles, você e eu.
A conta vem no final, não se engane!


As campanhas foram desenvolvidas em vários níveis de indecência, bastava prestar atenção. A mídia descobriu seu lado histriônico, selvagem, e sectário. Não era suficiente apoiar escancaradamente um candidato, tinham que atacar e difamar o outro. A desinformação como ferramenta de proselitismo. Goebbels se sentiria fascinado pela Era da Informação moderna. Anjos não fazem política.
As campanhas custaram valores absurdos. Tudo doação partidária e desinteressada 
Acredite, se puder. Coisa cada vez mais difícil.


Um dos muitos detalhes a ser percebidos foi o excesso de reforços positivos para manutenção e expansão dos mercados da forma como eles existem hoje, agora. Nenhuma mudança essencial. Isso foi explicito e inequívoco. A mensagem ficou claramente atestada em muitos dos discursos de campanha. Mesmo daqueles que perderam nas primárias. Marina (quem?) propôs algo levemente diferente... e fraco.
Frisson e êxtase passageiros na comunidade ecochata. Comoção geral no resto. A mídia não sabia o que fazer, muito menos o que dizer (!). Mas, foi por pouco tempo. Oposição posicionada. A democracia não ganhou, ninguém ganhou. A força centrífuga desta "Dança das Cadeiras" ejetou Marina até ela se espatifar contra a parede das suas próprias limitações.
Wally, onde está Marina?

Jesus e o próprio Diabo participaram da campanha mais escatológica e sem-vergonha dos últimos tempos.
A política acenava com o pão e os candidatos se encarregavam do circo. 
Carnaval em setembro... e outubro.
Ufa!






(* - Faço questão de publicar antes do resultado da votação)


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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

E se não os treinarmos e eles ficam?

Nestes dias atrás participei de uma discussão sobre qualificação. Mais especificamente, o plano nacional (ProNaTec - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e  Emprego) e estadual (Etecs, em São Paulo) de cursos técnicos.

Claro que os germes da discussão não foram exatamente os planos em si. O que era discutido era a falta de um profissional minimamente qualificado, ou melhor, da falta de mão de obra qualificada para suprir a demanda da indústria e serviços. Esta falta faria com que o desenvolvimento e a qualidade do produto fossem menores que aqueles seus similares estrangeiros. O argumento maior era que não se formavam colaboradores de qualidade, enfim.
No entanto, e apesar de todos concordarem naquele ponto, passava-se por alto o fato da existência dos programas citados. Me parece que no afã crítico dos participantes simplesmente se ignoravam aquelas iniciativas.

Antes disso, já tinha visto uma daquelas frases que circulam pela internet, que acabou me chamando a atenção: "What if we train our people and they leave? What if we don't train them and they stay?" que me parecia resolvia a questão de forma simples e quase definitiva.

No nosso país, o problema do trabalhador desqualificado, passa invariavelmente pela política.
A educação foi relegada, por nossos governantes todos, a terceiro ou quarto lugares, se acaso isso. Foram criadas gerações inteiras acreditando que, se não sabiam, era porque Deus quis assim. E isso era condição suficiente e necessária para tal. Uma verdadeira estratificação social. Depois essas mesmas crenças foram usadas para manter o povo sob controle e dominância para obtenção de interesses particulares além de qualquer doutrina religiosa. E, esses interesses nem precisavam acreditar no mesmo Deus ou estar na mesma terra.


Alguma vez se perguntou do porquê das descobertas do século XV? Imaginar a terra redonda não era, de forma alguma, uma inovação assim tão inovadora. Pode tirar isso da cabeça. Filósofos gregos, bem antes de Colombo, já haviam formulado a teoria. E ninguém rira deles. Foram "casualmente esquecidos" (what you don't know, won't be able to hurt you).

Um dos maiores paradoxos atuais é que a tecnologia moderna, aquilo que você usa, não o que você compra, se tornou estratégica em certos aspectos. A ponto de países como o Canadá e os Estados Unidos, avalizarem ou não, a compra e venda de empresas criadoras e detentoras de patentes em tecnologia. Colocando em termos mais simples, seria algo como verificar se as laranjas produzidas em Limeira-SP e vendidas em Goiânia-GO têm sementes. Se estas sementes forem viáveis (capazes de produzir pés de laranja, lógico) restringe-se a venda para diminuir e não criar concorrência. Ou evitar coisa pior, Goiânia-GO começar a exportar laranjas para Limeira-SP.
Viu como é simples?
Parece piada de bobo, mas imagine isso ocorrendo exponencialmente... com tecnologia. Com tudo.


Estarrecedor é que ninguém leia além das primeiras camadas superficiais do bordão: diferencial estratégico, e todo mundo ache 'bunitim' e simpático.

O simples fato de fazer as coisas corretamente muda o resultado. O simples fato de "saber" fazer as coisas corretamente, acarreta uma mudança ainda maior. E é isto o que deveria estar sendo debatido. O que os nossos governantes deveriam insistir em aprimorar. Mesmo que eles não cheguem a aproveitar desse resultado. Mas, este nivel de altruísmo, não é o que devemos esperar. Ou, seria o que deveriamos esperar?

Se as propostas são, entre outras, a de trabalhar pelo país, e nós somos (em conjunto) o país, não seria melhorar a qualificação da mão de obra uma das formas -corretas- de executar esse trabalho? E, criar uma 'cultura', através da educação de base, capaz de quebrar os paradigmas antigos de: "Deus quis assim", a bovina passividade e violência sem sentido?

É bem possível que assim fazendo teremos um país, uma sociedade e um povo, melhor.
O produto e o serviço desenvolvido por ele será, induvidavelmente melhor. Estaremos qualificados e, nada mais natural que nosso produto seja espelho dessa nossa qualificação.

Hoje, está tendo a Feira Tecnológica das Etecs do Centro Paula Souza, em São Paulo (de 21 a 23/10, no Pavilhão de Exposições da Barra Funda) e, ao igual que no ano passado, pude perceber exemplos dos primeiros passos tímidos de uma garotada entusiasmada com o que consegue fazer.
Dê-lhes as condições básicas, e estes brotos aparecerão. 



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terça-feira, 21 de outubro de 2014

Sem nós, não vai funcionar...


Estamos no meio das campanhas políticas. De tanto ouvir mesmíces, ou melhor, de recusar-me a ouvir as mesmas velhas diatribes para apascentar bois, me dedico a ler e pensar. Sim, não me escondo de ouví-las totalmente, mas depois de certo tempo as transformo em ruído branco. Marquei meus candidatos e deles cobrarei as promessas de campanha ou posturas e decências. Do resto, prefiro acordar ouvindo o sabiá cantar, às 4h15 da manhã todos os dias, empertigado numa árvore no quintal

De um dos livros que escolhi para ler ("The World Set Free") de HG Wells, escrito em 1913 e publicado em 1914, a introdução na edição de 1921 diz:
"The dream of a World Set Free, a dream of highly educated and highly favoured leading and ruling men, voluntarily setting themselves to the task of reshaping the world, has thus far remained a dream."
("O sonho de um mundo livre, o sonho onde homens, líderes e dirigentes altamente qualificados e favorecidos, voluntariamente se oferecendo à tarefa de remodelar o mundo, até agora permanece um sonho.")
Lucia Santaella nos brinda, em seu ensaio sobre pós-humanismo com a seguinte introdução: "É curioso observar que, em meados dos anos 1980, quando a internet estava emergindo e a simbiose entre os seres humanos e as máquinas apenas se insinuava, em um tipo de ficção que passou a ser conhecida sob a rúbrica de "ciberpunk", jovens escritores já pressentiam os desenvolvimentos e complexidades do estado atual e futuramente prometido das tecnologias."


Posso estar redondamente enganado. Não seria a primeira, nem a última, vez. Mas esta sensação não me larga de que muitos programas implementados recentemente só beneficiam um dos lados da balança, enquanto o outro -o lado das pessoas- fica sempre para depois. Procrastinado abertamente em nome de inovações utópicas ou daqueles "bolos que esperamos, esperamos e... nunca cresceram".


Tomemos um exemplo básico dos afazeres humanos: vejamos o sistema econômico ou mesmo o bancário, como ele é executado no Brasil. Ano após ano, os bancos mostram balancetes com lucros bilionários enquanto o país se arrasta num (sub)desenvolvimento acidental -lamento, não consigo definir de outro modo-. Houve até o desplante de um comentarista de economia repetir que um dos bancos não havia repetido o lucro de anos anteriores, enquanto mostrava um positivo de R$ alguns bilhões.

A indústria recebe isenções e benefícios fiscais, criando bolhas de índices de produção que irão explodir mais adiante na cara do consumidor e do povo que não consome, também. Isto tudo enquanto, ela própria, não melhora nem produto nem produção. E, socialmente continuamos iguais.
Aqui e alí, aparecem bolsões temporários e limitados de inovação, observados e assumidos por alguns setores.
Resumindo, o sistema econômico é beneficiado, enquanto as pessoas são assumidas, unicamente, como consumidores. Mercados...

O paradoxo está em que, ao aumentar produção reduzindo custos com mão de obra, reduz-se também a quantidade de consumo. Visto que, se não há salários, ou então, pagam-se menos salários, haverá menos gente comprando. O 'mercado' diminui na mesma medida. Será que estou tão engando assim?
Será que ninguém pode ver como a transformação das pessoas em simples prestadores de serviços não anula a equação?

Tempos depois de ter publicado este post encontrei esta charge que ilustra diligentemente o post.
Não me furto a compartirla com vocês.





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Referências:

Biagio Jr., N., It's always about people, stupid!
Rüdiger F., Breve história do pós-humanismo:Elementos de genealogia e criticismo em Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, PUC-RS
Santaella, L., Pós-Humano, por quê? REVISTA USP, São Paulo, n.74, p. 126-137, junho/agosto 2007
Quill, E., When Networks Network em Sciencenews, vol. 182 #6 (p. 18) Set. 2012..


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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Malala

Estava demorando, ele enlouqueceu de vez!
O que a Malala tem em comum com esses outros?
Onde a semelhança entre eles?

Antes uma pergunta "sem noção":
Saberia me dizer a relação que há entre 2, 10, 12, 16, 17, 18, 19 e 200?
Satisfeita essa pré-condição, sigamos em frente. Não se preocupe, no final eu digo a relação.
Voltemos aos Nobel da paz, sim?


Vamos recomeçar do principio.
Malala, falávamos dela. Pois bem, ela me há demostrado a perfeição que o Sun Tzu tinha razão. Lembra dele?
No seu livro, escrito mais de 2500 anos atrás, este senhor já dizia:

"Quando cercar um exército, deixe uma saída livre. Isto não significa que permita ao inimigo fugir. O objetivo é faze-lo acreditar que é um caminho para a segurança, evitando que lute com a coragem do desesperado."

Malala e Sun fazem um estranho par de dança, mas continue comigo e veja o desenho da relação. O que o escrito do Sr. Sun nos diz, basicamente é: "o inimigo que não tem nada a perder e' muito mais perigoso. O desespero lhe dá forças que antes não tinha."
E eis aqui onde dança começa.

Malala é cria do seu ambiente. E, como todas as mulheres em quase todas as culturas, ainda hoje, continua lutando para ocupar um espaço igual ao do seu companheiro. Já vimos isso antes e temos atualmente muitos exemplos disso. No caso específico dela, uma luta inglória contra a ignorância e subserviência histórica de eras incontáveis. A inocência que a pouca idade confere e a simplicidade do pedido: educação, mal seriam consideradas ameaças em qualquer outro lugar.
Em qualquer outro outro lugar que não um país controlado por fundamentalistas religiosos.
Bom, quase...

E ainda há a participação espontânea da outra parte, os fundamentalistas religiosos islâmicos. Entra o Talibã (the plot thickens). A interpretação e aplicação literal de dogmas é um caminho complicado e cheio de curvas escorregadias. Isso, quando se obedecem certos critérios de lógica e humanidade, que convenhamos não é o caso em questão. Em nenhum lugar do seu ditado, pois Maomé não sabia ler nem escrever, pregava ele o ódio generalizado e nem a opressão às mulheres. Isto foi o fruto de más-interpretações feitas por gente que sabia menos que ele, e que acabaram adaptando seu livro às suas necessidades imediatas.
Deu no que deu...


Ao assumirem para si o controle da população, pelos motivos que forem, não haveriam de aceitar questionamentos ao seu fraco poder. Ainda mais questões vindas de uma mulher, nada mais longe do círculo de comando. A forma como seria demostrado esta intolerância ou interferência no status quo -para eles- deveria ser exemplar. Com isto evitar-se-iam a multiplicação de futuras tentativas no mesmo calibre.
Talvez nem fosse Malala a principal alvo.
Aconteceu...

Aconteceu de atirarem na cabeça dela para servir de exemplo para as outras meninas que, por ventura, também quisessem educação. Quanta prepotência!
Aconteceu de fazerem um serviço tão covarde, que matar uma menina desarmada lhes deu medo. Tem coisas que Gabriel não ditou a Maomé porque acreditou que todos já sabiam. Amar uns aos outros.
Essa era fácil demais.

Aconteceu que Malala não morreu. Pior, cada gota de seu sangue semeou novas Malalas naquele mesmo chão. E eis aqui onde entra nosso amigo chinês, Sun Tzu, e diz o que disse lá encima. Seus algozes tiraram tudo da menina. Não tinha mais nada a perder. E o desespero não estava mais no menu.
Ela morreu e voltou.
Bateu na trave, se diz no futebol.

Voltou com mais força e uma determinação igual à dos desesperados.
Ganhou prosélitos no ocidente. Ganhou apoios, não somente no seu país, mas (e principalmente) no mundo árabe que ainda hão de crescer e aparecer.
Educação para mulheres? Onde iremos parar?
Daqui a pouco estarão dirigindo automóveis e exigindo direito a voto... 
...
Não, espere... isso elas já fazem.
...



Ahn sim, não esquecí da minha pergunta lá de cima, não.
A resposta é simples: todos começam com a letra "D".
Você não percebeu?

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A canção do Espantalho

Todos cometemos erros. Grandes, pequenos... enganos.
Somos falíveis, imperfeitas criaturas que aprendemos às turras. Quando, e se, aprendemos.

Como já comentei antes num outro post, as nossas atribulações atuais são trazidas por muitas das soluções que demos a problemas que tivemos. Aplicamos soluções imediatas e, sorrindo, demos tapinhas nas costas uns dos outros. Nunca mais voltamos a pensar no assunto.
Bom, o assunto está ali, batendo na nossa porta...


Escolha um tema. Qualquer um, não importa. Veja as soluções aplicadas. Mentalize essa solução sendo aplicada milhares, milhões de vezes sem conta. Imagine (sim, este é um exercício de mentalização, desculpe) o que acontece com a aplicação de soluções pontuais a longo prazo.

Vou citar um exemplo.
Num sistema fechado, numa comunidade qualquer, elimine os agentes patogênicos (reduza contato externo), aumente a alimentação e o conforto e veja o que acontece. Haverá um aumento, quase que imediato, da população, uma diminuição da mortalidade até um ponto de estabilidade a partir do qual, a curva ascendente declina e se estabiliza na horizontal. Entropia constante.
Neste ponto acontecem várias coisas: o espaço diminui e o conforto também. Começam a aparecer conflitos. Por espaço, comida, conforto em fim. O sistema se fecha (collapses) sobre si mesmo até extingir. Desequilíbrio até equilibrar e, fim.
Lembre que falo de um sistema fechado, nada entra, nada sai.


O seu oposto, em sistemas abertos, onde podemos mudar os elementos (quase) sem aviso (em interação constante com o meio-ambiente).

Passamos a vida na flauta, imprevidentes e irresponsáveis.
Ao primeiro sinal de contrariedade, uns corremos todos à missa, às procissões, aos cultos dos deuses mais populares, aos de maior audiência.
E a gente pede. (Re)Clama socorros, bençãos e misericórdias à balde! Mas no tempo deles (o nosso), que casualmente, pode não ser o tempo de Deus. Se oceanos palpitam a cada mil anos, qual será o tempo de Deus, que conceitualmente, É muito maior?
E qual será a velocidade da sua reação entre ouvir o clamor dos seus 'filhos mui diletos' e agir de acordo ao seu merecimento?
Outros correm a por fogo em ônibus, solução atávica que, supõem eles, deverá chamar a atenção dos 'poderes divinos' e acelerar a solução do causo em questão.

Cortamos as árvores e cobrimos com cimento a grama. A isto chamamos de evolução e progresso!
Máquinas interrompendo a natureza. Como se ela, por sermos cegos e surdos, não visse nem ouvisse o grito de cada árvore viva que cai, ou que arde. Somos limitados, medimos tudo a fronteiras, espaços e tempos. Criamos até tecnologia para isso. Chamamos de relógio a milimétrica repartição do tempo em claros e escuros, dia e noite. Confiamos mais na máquina do que nos sinais que a natureza nos brinda gratuitamente.
Chegamos aos desplantes de irritar-nos com o canto do galo e dos pássaros às 04h51 da manhã, pois temos que levantar às 05h para preparar-nos para ir trabalhar!
Afinal, isso é civilizado!

Nossa evolução toda foi imposta por sobrevivência. Unidos a contragosto em bandos para defesa, para coleta, para colheita e produção. Aprendemos por meme que a sombra do bando em movimento não somente afasta o predador mas, somadas forças, em fáscio, nos torna fortes.


Quantas vezes não escutei: "o transporte não funciona!" ou "a água nunca vai acabar! Tem de monte nos rios, nos mares e oceanos!" Como fazer entender que a água, assim como a paciência, um dia acaba. Quem tiraria a água? "Afinal eu pago todo mês para regar com ela o cimento da calçada! Tenho dinheiro para isso!"
Quando a água acabar, primeiro (re)clame aos céus (de novo?), depois regue com dinheiro a calçada... veja os efeitos.

Por esses e outros exemplos, lembrei-me de um personagem cheio de paixões e quereres. O Espantalho de "Alice na Terra de Oz". E entendi, finalmente, quando ele diz.
"Se eu tivesse um cérebro, passaria as horas falando com as flores, consultando com a chuva. E coçaria minha cabeça enquanto pensamentos estariam ocupados incubando".
Mesmo do seu jeito inocente e ingênuo, acha que a solução para tudo está em... pensar na solução. Com perguntas simples e diretas, demostra sua infantil ignorância. Não teme nada, "exceto um fósforo acesso" e sua justificativa é, exatamente, não ter cérebro para poder se meter em problemas. Ou, criá-los.
Negando ingenuamente aquilo que mais quer.

Ao meu ver (às favas com o 'achismo'!), somos todos, ou uma grande, enorme maioria, como o meme do espantalho da Alice. Negamos a nós mesmos, aquilo mesmo que mais desejamos. Fomos treinados para isso. Dificilmente levantaremos e gritaremos: "Basta!" E, quando finalmente o fizermos, de tão atabalhoado, solucionaremos um problema imediato e ao mesmo tempo plantaremos as sementes para outro no futuro.

O conceito criado por Richard Dawkins em 1976, "meme" é uma ideia ou estilo que se espalha de pessoa a pessoa dentro de uma cultura. Um meme age como unidade mínima de informação para carregar ideias culturais, símbolos ou práticas que podem ser transmitidas de uma mente a outra através de escrita, fala, gestos, rituais ou outro fenômeno imitável com um tema mímico. O estudo dos modelos evolutivos da transferência de informação é conhecido como memética.

Escute comigo:



(Scarecrow)
I could wile away the hours
Conferrin' with the flowers
Consultin' with the rain
And my head I'd be scratchin'
While my thoughts were busy hatchin'
If I only had a brain

I'd unravel any riddle
For any individ'le
In trouble or in pain

(Dorothy)
With the thoughts you'd be thinkin'
You could be another Lincoln 
If you only had a brain

(Scarecrow)
Oh, I would tell you why
The ocean's near the shore
I could think of things I never thunk before
And then I'd sit and think some more

I would not be just a nuffin'
My head all full of stuffin'
My heart all full of pain
I would dance and be merry
Life would be a ding-a-derry
If I only had a brain


Diga se não parecemos com o Espantalho, perdidos numa arquitetura do pânico, à qual nunca estaremos atualizados.
E agora licença, pois "I'll be thinking of things I never thunk before, and then I'll sit and think some more..."



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