domingo, 31 de maio de 2009

Verbo

"No começo era o verbo." [Pronto, já começam as aulas de linguagem!]
E, por ser e estar, criou-se de tudo.
O sim e o não.
Depois vieram o talvez e o principio do consenso, seguido dos porém, todavias, contudos e vejamos.
E de tudo foram dois, no maior silêncio e harmonia.
...
E na medida em que mais criava, o silêncio foi se acabando.
Foi um tal de zumbir, ciciar, piar, coaxar, balir, rugir e gritar, que o silêncio se pode ouvir de tão pequeno.
Aprendeu-se o silêncio como muito, muitíssimo depois mesmo, se aprenderia o zero.
Só então, a mãe cansada, repousou.

De seus filhos, os menores, como todo anjinho, fizeram o diabo!
Quis ser três, enquanto de alguns fez nenhum e nunca jamais.
Revirou sua casa e a dos outros.
E depois do silêncio, a harmonia começou a rarear.

Se trouxe até agora, sem pé nem descanso.
Surpreso e perdido, não reconhece mais casa, mãe nem verbo.
Um adjetivo, desqualificado, menor.
"dispersou-se no tempo, cuja ordem... etc."
Alguém que imagine como acaba.

Ouroboros.

domingo, 17 de maio de 2009

Chico

É invariável. Não consigo fugir disso. Entro na cozinha para tomar meu café e, assim que arrumo todo:
"Moço, dá um teco."
Vem a voz pedinte...
Finjo que não escutei e às vezes, malvado, viro de costas.
"Dá um teco vai, qui que custa?"
Começam as negociações.
Finge, pede, nega, pede, e esta dança não dura muito.
Cedo.
Sou um molenga, admito. Mas não consigo comer em paz sabendome observado em cada movimento, como a dizer: "Eu faria muito melhor."
Acabo cedendo um pedaço do meu pão e, se estou com tempo, do café também.
Papagaios adoram café.
Não sei porque.