O post a seguir não é original meu. Quem me dera poder escrever com tanta simplicidade um tema tão complicado. No final identifico o seu autor, autodeclarado: "avô aposentado". Mas, ele muito bem declara elementos de um imbroglio que consome o tempo dos maiores jornais e a mídia em geral. Uns contra e outros também, que afinal aos berros, não explicam nada. Espero poder contribuir para a disseminação de explicações objetivas e sem tinturas partidárias.
Leiam:
A midia, sempre na procura de uma crise, aproveita o caso de corrupção ocorrido na Petrobrás, para aplicar a máxima do Velho Guerreiro: vim para confundir e não para explicar.
Num momento em que o mercado internacional de petróleo também é vítima de uma ação, nada técnica ou econômica, está formado o ambiente ideal para que todos sejam vítimas da desinformação.
Sem pretender ter a verdade, mas com respaldo de algumas décadas de trabalho no mundo do petróleo, procurei grupar a atual questão nos dois campos onde é possível entender o que acontece: o campo técnico-econômico e o campo político-financeiro.
Campo técnico-econômico
Vamos iniciar trabalhando o Quadro que se segue com as reservas de petróleo em países chaves. Os dados numéricos estão em bilhões de barris, com arredondamento estatístico para facilitar a percepção.
Em 1980 ocorreu o “oil glut”. Após diversos aumentos de preço, desde o final dos anos 1960 até aquele ano, os preços se estabilizaram e a produção, com os programas de conservação de energia e substituição de energéticos, deixou de ser pressionada pela demanda. Falava-se, também, de um previsível fim da era do petróleo para os próximos cinquenta anos. Como se vê no Quadro, as reservas de petróleo aumentaram significativamente. Apenas mudou o peso dos países detentores destas reservas. Vamos analisar mais detalhadamente o Quadro.
Quando a produção é mantida nos mesmos patamares, as reservas crescem por dois motivos: houve novas descobertas ou melhorou-se o fator de recuperação dos reservatórios. Como é sabido, nunca se retira todo o óleo/gás existente nos reservatórios. Somente utilizando a energia natural dos reservatórios pode-se retirar 20% a 30%, dependendo do que se chama sistema rocha-fluido. Mas com métodos de recuperação pode-se retirar até 60% do petróleo existente. Seria equivalente a uma descoberta do mesmo porte. Assim as oscilações positivas, quando pouco expressivas, e, principalmente, a manutenção das reservas devem ser atribuídas à melhoria do fator de recuperação.
As descobertas realmente importantes, nestas últimas duas décadas e meia, ocorreram na Venezuela, no Irã e no pré-sal do Brasil, onde ainda estão sendo apropriadas as reservas, mas se estima iguais ou superiores a 60 bilhões de barris. Este fato redesenha a geopolítica do petróleo e coloca os países da União Européia e os Estados Unidos frente a países que não se subordinam aos seus interesses: Venezuela, Irã, Rússia e Brasil. Poderíamos dizer que se está diante de uma situação indesejável, do ponto de vista dos Impérios Coloniais. Não assombra, consequentemente, que várias medidas em diversos níveis e diversificadas áreas estejam sendo adotadas para modificar esta situação. Mais ainda, quando o petróleo é e continuará sendo até, ao menos, o final deste século, a mais barata e comercializável fonte de energia e um insumo indispensável para ampla área industrial, com a tecnologia hoje disponível.
Vejamos o preço. Como produto finito, o preço do petróleo, além do custo de produção, agrega um “valor de reposição”, ou seja, o que se terá ao fim da reserva explotada. Também fazem parte do preço os impostos, os encargos da contratação da área e o lucro. Tomemos a área que tem, provavelmente, o menor custo de produção: a península arábica. Ali estão as produções da Arábia Saudita, do Kuwait, dos Emiratos Árabes, do Qatar e do Iraque. São campos antigos, mas, se observarmos o Quadro anterior, notaremos que se tem feito um grande esforço na elevação do fator de recuperação dos reservatórios. Assim, podemos estabelecer USD 10 por barril. Mas temos que agregar o custo de reposição. Vamos pegar um valor que inclua áreas ainda prospectáveis do Planeta: costa ocidental da África, do Golfo da Guiné ao sul deste, a Sibéria Russa, o Mar da China, a Amazônia Peruana e o pré-sal brasileiro. Posso avaliar um custo médio de USD 30 por barril para confirmação da reserva. Finalmente os demais custos e o lucro corresponderiam a uns USD 20, o que parece bastante proporcional e razoável. Temos, por conseguinte, que o preço mínimo de um barril de petróleo seria de USD 60, o que confere com os menores valores que ele atingiu neste último mês.
Vamos tratar de outro aspecto técnico-econômico. O universo empresarial do petróleo. Se as majors e algumas estatais tem maior visibilidade, elas trabalham com uma enorme gama de prestadoras de serviço, tais como: perfuração e intervenção em poços, sísmicas e outros métodos geofísicos de levantamento e processamento de dados, laboratórios de análises geológicas, serviços de apoio e de deslocamento de unidades de perfuração e mais um grande número de companhias de diversos portes, mas detentoras de uma tecnologia cara e especializada. Quando a atividade petroleira se retrai, estas empresas sofrem muito pois se forem desmobilizadas provavelmente deixarão de existir e se continuarem em funcionamento engulirão sua reserva econômico-financeira. Situação ainda mais aflitiva se considerarmos que quase todas estão nos países ocidentais desenvolvidos que passam por uma dificílima situação econômica.
Finalmente uma breve consideração sobre os shale oil&gas.
A produção deste xisto oferece muitos problemas ambientais, como a contaminação dos aquíferos, econômicos, em média são necessários 10 poços onde bastaria um para reservatórios convencionais, e a duração de uma reserva é breve – a literatura estima que um campo de shale oil&gas tenha, em dois anos e meio, produzido mais de 80% de seu potencial explorável, ficando os restantes 20% para um período igual ou superior a 10 anos. Assim, não se pode considerar que as reservas canadenses e norte-americanas de xisto estejam alterando o mundo do petróleo. A China também detém reservas de xisto, mas está preferindo comprar petróleo convencional no mercado, principalmente com os atuais preços baixos.
Campo político-financeiro
As guerras frias e quentes desencadeadas pelos EUA neste novo século retiraram do mercado produtor e das atividades exploratórias, no mínimo, muitas centenas de bilhões de dólares, além de reduzirem a produção de importantes reservas como da Líbia, do Iraque, do Irã e, agora, da Rússia. Obviamente estas ações justificariam a elevação do preço do barril, ao invés de sua redução. Mesmo a retração econômica dos EUA e da Europa não chegariam a modificações no preço, principalmente num forte inverno, a não ser para majorá-lo. A queda do preço do barril é, tão somente, política e os prejuízos dela decorrente me fazem pensar que não durarão por mais de um semestre. Do lado norte-americano é uma pressão adicional à Rússia e ao Irã, e uma tentativa de se apropiar das reservas venezuelanas e do pré-sal brasileiro. Do lado saudita, a disputa regional e religiosa da sunita Arábia Saudita com o xiita Irã. Não posso deixar de chamar a atenção para o non sense saudita-norte-americano que de um lado financiam o Estado Islâmico – o califado do século XXI – com capitais da Arábia Saudita e por outro lhe movem guerra com recursos norte-americanos. Como diria o personagem de Jô Soares: 'chose de loque'.
Há outras variáveis nesta questão mas fogem ao escopo destas considerações.
Outra questão para embaralhar o entendimento é o preço das ações.
Vejamos um novo Quadro que retrata os preços das ações na Bolsa de Nova York de companhias integradas de petróleo, nos últimos 30 dias, valores em USD 1,00, variação em percentagem.
Veja que empresas sólidas, com enorme tradição no mercado, como a Shell, sofreram maior variação do que empresas com ativos muito menores e reservas pequenas como a Chevron. No meu juízo há o fator do conhecimento da empresa nacional frente a estrangeira e o aspecto altamente importante da especulação, que envolve todo mercado financeiro, definindo este indicador. Assim, atribuir à Petrobrás, isolada do mercado, por motivos sensacionalistas a queda do preço é outro fator de desinformação. Isto para não citar, o que não pude comprovar, que um dos maiores especuladores mundiais, Georgy Soros, teria dobrado a posição de seu fundo em ações da Petrobrás.
PETROBRÁS
Chegamos à Petrobrás. Antes de analisar a situação atual, gostaria de contar um fato histórico recentemente reavivado pelo jornalista José Augusto Ribeiro. Este fato foi narrado pelo ex-senador, atual vice-governador, Francisco Dornelles. Seu pai General Mozart Dornelles era Subchefe do Gabinete Militar de Getúlio Vargas, em 1954. O maior empresário da midia, dono dos dois únicos canais de televisão no Brasil, era Assis Chateaubriand (Chatô). Ele colocou seus canais de TV à disposição de Carlos Lacerda que toda noite perorava agressões a Getúlio e pedia sua renúncia. General Mozart procurou Chatô, usando seu bom relacionamento com o empresário, sem que Vargas soubesse, e perguntou qual a razão de tanta crueldade. Chateaubriand não dissimulou suas razões: “Mozart, eu adoro o Presidente. Basta ele desistir da Petrobrás e eu tiro o Carlos Lacerda e entrego a televisão a quem o Presidente quiser, para fazer a defesa do governo”. Chocado, o General foi a Tancredo Neves, seu cunhado e Ministro da Justiça, e relatou o episódio. O desfecho todos sabemos.
A Petrobrás, como aconteceu com muitas empresas, cito apenas as de meu conhecimento pessoal: Elf, francesa, e IBM, norte-americana, teve a infelicidade de ter um Diretor sem escrúpulos morais, mas suficientemente esperto para se proteger envolvendo outras pessoas da própria empresa, empreiteiros e políticos. Pensava criar uma barreira de impunidade. Uma operação policial que envolvia lavagem de dinheiro acabou por chegar a ele e desmontar seu esquema. A midia, em seu afã de desinformar, procurou associar este fato policial à compra da Refinaria em Pasadena (EUA), ao saudável endividamento da Empresa, ao preço de suas ações nas Bolsas e ao oportunismo de detentores de ADRs em mover ação contra a Petrobrás. Vamos começar pelas ADRs. Faria muito bem o órgão público que venha tratar desta questão exigir a relação nominal dos detentores das ADRs. Afinal é lícito saber quem está movendo uma ação contra você. Neste conhecimento serão sem dúvida identificados brasileiros que não terão como explicar este investimento no exterior, cometendo ou evasão fiscal ou remessa ilícita de dinheiro, se não houver fato mais grave. É dado com sensacionalismo um fato por demais conhecido por todos que se interessam pelo mercado financeiro internacional. O Estado de Nevada, como diz a máxima, tem mais empresas do que habitantes, pelas facilidades, custo e garantia que dá a estrangeiros que abrem empresa para especular ou mesmo investir nos Estados Unidos. Dizer que encontrou o dinheiro da Lava Jato deveria acrescentar da Lista de Furnas, da Compra da Reeleição, da Pasta Rosa, dos Trens e Metro de São Paulo, do Maluf etc etc etc.
É óbvio que o desvio de dinheiro e o custo mais elevado provocado pela ação do senhor Paulo Roberto Costa e, possivelmente, por sua auxiliar Venina Fonseca entre outros exijam uma aferição mais profunda das contas da Petrobrás. Isto é o correto. O tempo que isto levará depende da profundidade do estudo e das decisões judiciais que venham a ser tomadas. Sem dúvida gera um ambiente de incertezas na contabilidade da companhia, mas não é um desastre como os da BP ou da Exxon. O ativo mais importante de uma empresa de petróleo é sua reserva e seu lucro vem da produção, ambos em ascensão atualmente. Pessoalmente estou aproveitando a baixa do preço para comprar ações da Petrobrás.
Fica uma lição que, infelizmente sou obrigado a reconhecer, parece que a Petrobrás não aprendeu completamente foi designar a advogada Ellen Gracie, ex-OGX, ex-STF, para a equipe de “compliance”. Meu modesto entendimento aconselharia a fazer uma profunda mudança na estrutura organizacional da Petrobrás, herança do período FHC, sob a Presidência do francês Henri Philippe Reichstul, de triste memória. Este modelo facilita ações delitosas, como a que estamos conhecendo, desarticula ações que deveriam estar sob uma única responsabilidade e aumenta o custo administrativo. Quando foi implementada objetivava fracionar e vender por partes a companhia.
Não creio que este objetivo prevaleça.
Finalmente o desenvolvimento do pré-sal. Quando você encontra um reservatório, os bancos não se furtam em financiar o que chamamos desenvolvimento do campo, pois tem a reserva como garantia. Este financiamento gera um fluxo de caixa com os preços previsíveis do petróleo. O orçamento da Chevron para 2014 foi feito com o barril a USD 110. É óbvio que, mantidos os preços atuais, o que repito não acredito, a Petrobrás precisará rever todos seus planos de desenvolvimento dos campos. Possivelmente alguns não serão econômicos com o barril de USD 60. Mas é isto que o planejamento da Petrobrás já estará fazendo: novos cenários, novos fluxos, novas taxas de atratividade a serem apresentados para decisão colegiada da Diretoria Executiva da Companhia. Isto já ocorreu em 1980 e em outras oportunidades. Toda empresa de petróleo está fazendo o mesmo, com toda certeza.
Nada de escândalo midiático, nem torcida contra o Brasil.
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Leiam:
A midia, sempre na procura de uma crise, aproveita o caso de corrupção ocorrido na Petrobrás, para aplicar a máxima do Velho Guerreiro: vim para confundir e não para explicar.
Num momento em que o mercado internacional de petróleo também é vítima de uma ação, nada técnica ou econômica, está formado o ambiente ideal para que todos sejam vítimas da desinformação.
Sem pretender ter a verdade, mas com respaldo de algumas décadas de trabalho no mundo do petróleo, procurei grupar a atual questão nos dois campos onde é possível entender o que acontece: o campo técnico-econômico e o campo político-financeiro.
Campo técnico-econômico
Vamos iniciar trabalhando o Quadro que se segue com as reservas de petróleo em países chaves. Os dados numéricos estão em bilhões de barris, com arredondamento estatístico para facilitar a percepção.
Em 1980 ocorreu o “oil glut”. Após diversos aumentos de preço, desde o final dos anos 1960 até aquele ano, os preços se estabilizaram e a produção, com os programas de conservação de energia e substituição de energéticos, deixou de ser pressionada pela demanda. Falava-se, também, de um previsível fim da era do petróleo para os próximos cinquenta anos. Como se vê no Quadro, as reservas de petróleo aumentaram significativamente. Apenas mudou o peso dos países detentores destas reservas. Vamos analisar mais detalhadamente o Quadro.
Quando a produção é mantida nos mesmos patamares, as reservas crescem por dois motivos: houve novas descobertas ou melhorou-se o fator de recuperação dos reservatórios. Como é sabido, nunca se retira todo o óleo/gás existente nos reservatórios. Somente utilizando a energia natural dos reservatórios pode-se retirar 20% a 30%, dependendo do que se chama sistema rocha-fluido. Mas com métodos de recuperação pode-se retirar até 60% do petróleo existente. Seria equivalente a uma descoberta do mesmo porte. Assim as oscilações positivas, quando pouco expressivas, e, principalmente, a manutenção das reservas devem ser atribuídas à melhoria do fator de recuperação.
As descobertas realmente importantes, nestas últimas duas décadas e meia, ocorreram na Venezuela, no Irã e no pré-sal do Brasil, onde ainda estão sendo apropriadas as reservas, mas se estima iguais ou superiores a 60 bilhões de barris. Este fato redesenha a geopolítica do petróleo e coloca os países da União Européia e os Estados Unidos frente a países que não se subordinam aos seus interesses: Venezuela, Irã, Rússia e Brasil. Poderíamos dizer que se está diante de uma situação indesejável, do ponto de vista dos Impérios Coloniais. Não assombra, consequentemente, que várias medidas em diversos níveis e diversificadas áreas estejam sendo adotadas para modificar esta situação. Mais ainda, quando o petróleo é e continuará sendo até, ao menos, o final deste século, a mais barata e comercializável fonte de energia e um insumo indispensável para ampla área industrial, com a tecnologia hoje disponível.
Vejamos o preço. Como produto finito, o preço do petróleo, além do custo de produção, agrega um “valor de reposição”, ou seja, o que se terá ao fim da reserva explotada. Também fazem parte do preço os impostos, os encargos da contratação da área e o lucro. Tomemos a área que tem, provavelmente, o menor custo de produção: a península arábica. Ali estão as produções da Arábia Saudita, do Kuwait, dos Emiratos Árabes, do Qatar e do Iraque. São campos antigos, mas, se observarmos o Quadro anterior, notaremos que se tem feito um grande esforço na elevação do fator de recuperação dos reservatórios. Assim, podemos estabelecer USD 10 por barril. Mas temos que agregar o custo de reposição. Vamos pegar um valor que inclua áreas ainda prospectáveis do Planeta: costa ocidental da África, do Golfo da Guiné ao sul deste, a Sibéria Russa, o Mar da China, a Amazônia Peruana e o pré-sal brasileiro. Posso avaliar um custo médio de USD 30 por barril para confirmação da reserva. Finalmente os demais custos e o lucro corresponderiam a uns USD 20, o que parece bastante proporcional e razoável. Temos, por conseguinte, que o preço mínimo de um barril de petróleo seria de USD 60, o que confere com os menores valores que ele atingiu neste último mês.
Vamos tratar de outro aspecto técnico-econômico. O universo empresarial do petróleo. Se as majors e algumas estatais tem maior visibilidade, elas trabalham com uma enorme gama de prestadoras de serviço, tais como: perfuração e intervenção em poços, sísmicas e outros métodos geofísicos de levantamento e processamento de dados, laboratórios de análises geológicas, serviços de apoio e de deslocamento de unidades de perfuração e mais um grande número de companhias de diversos portes, mas detentoras de uma tecnologia cara e especializada. Quando a atividade petroleira se retrai, estas empresas sofrem muito pois se forem desmobilizadas provavelmente deixarão de existir e se continuarem em funcionamento engulirão sua reserva econômico-financeira. Situação ainda mais aflitiva se considerarmos que quase todas estão nos países ocidentais desenvolvidos que passam por uma dificílima situação econômica.
Finalmente uma breve consideração sobre os shale oil&gas.
A produção deste xisto oferece muitos problemas ambientais, como a contaminação dos aquíferos, econômicos, em média são necessários 10 poços onde bastaria um para reservatórios convencionais, e a duração de uma reserva é breve – a literatura estima que um campo de shale oil&gas tenha, em dois anos e meio, produzido mais de 80% de seu potencial explorável, ficando os restantes 20% para um período igual ou superior a 10 anos. Assim, não se pode considerar que as reservas canadenses e norte-americanas de xisto estejam alterando o mundo do petróleo. A China também detém reservas de xisto, mas está preferindo comprar petróleo convencional no mercado, principalmente com os atuais preços baixos.
Campo político-financeiro
As guerras frias e quentes desencadeadas pelos EUA neste novo século retiraram do mercado produtor e das atividades exploratórias, no mínimo, muitas centenas de bilhões de dólares, além de reduzirem a produção de importantes reservas como da Líbia, do Iraque, do Irã e, agora, da Rússia. Obviamente estas ações justificariam a elevação do preço do barril, ao invés de sua redução. Mesmo a retração econômica dos EUA e da Europa não chegariam a modificações no preço, principalmente num forte inverno, a não ser para majorá-lo. A queda do preço do barril é, tão somente, política e os prejuízos dela decorrente me fazem pensar que não durarão por mais de um semestre. Do lado norte-americano é uma pressão adicional à Rússia e ao Irã, e uma tentativa de se apropiar das reservas venezuelanas e do pré-sal brasileiro. Do lado saudita, a disputa regional e religiosa da sunita Arábia Saudita com o xiita Irã. Não posso deixar de chamar a atenção para o non sense saudita-norte-americano que de um lado financiam o Estado Islâmico – o califado do século XXI – com capitais da Arábia Saudita e por outro lhe movem guerra com recursos norte-americanos. Como diria o personagem de Jô Soares: 'chose de loque'.
Há outras variáveis nesta questão mas fogem ao escopo destas considerações.
Outra questão para embaralhar o entendimento é o preço das ações.
Vejamos um novo Quadro que retrata os preços das ações na Bolsa de Nova York de companhias integradas de petróleo, nos últimos 30 dias, valores em USD 1,00, variação em percentagem.
PETROBRÁS
Chegamos à Petrobrás. Antes de analisar a situação atual, gostaria de contar um fato histórico recentemente reavivado pelo jornalista José Augusto Ribeiro. Este fato foi narrado pelo ex-senador, atual vice-governador, Francisco Dornelles. Seu pai General Mozart Dornelles era Subchefe do Gabinete Militar de Getúlio Vargas, em 1954. O maior empresário da midia, dono dos dois únicos canais de televisão no Brasil, era Assis Chateaubriand (Chatô). Ele colocou seus canais de TV à disposição de Carlos Lacerda que toda noite perorava agressões a Getúlio e pedia sua renúncia. General Mozart procurou Chatô, usando seu bom relacionamento com o empresário, sem que Vargas soubesse, e perguntou qual a razão de tanta crueldade. Chateaubriand não dissimulou suas razões: “Mozart, eu adoro o Presidente. Basta ele desistir da Petrobrás e eu tiro o Carlos Lacerda e entrego a televisão a quem o Presidente quiser, para fazer a defesa do governo”. Chocado, o General foi a Tancredo Neves, seu cunhado e Ministro da Justiça, e relatou o episódio. O desfecho todos sabemos.
A Petrobrás, como aconteceu com muitas empresas, cito apenas as de meu conhecimento pessoal: Elf, francesa, e IBM, norte-americana, teve a infelicidade de ter um Diretor sem escrúpulos morais, mas suficientemente esperto para se proteger envolvendo outras pessoas da própria empresa, empreiteiros e políticos. Pensava criar uma barreira de impunidade. Uma operação policial que envolvia lavagem de dinheiro acabou por chegar a ele e desmontar seu esquema. A midia, em seu afã de desinformar, procurou associar este fato policial à compra da Refinaria em Pasadena (EUA), ao saudável endividamento da Empresa, ao preço de suas ações nas Bolsas e ao oportunismo de detentores de ADRs em mover ação contra a Petrobrás. Vamos começar pelas ADRs. Faria muito bem o órgão público que venha tratar desta questão exigir a relação nominal dos detentores das ADRs. Afinal é lícito saber quem está movendo uma ação contra você. Neste conhecimento serão sem dúvida identificados brasileiros que não terão como explicar este investimento no exterior, cometendo ou evasão fiscal ou remessa ilícita de dinheiro, se não houver fato mais grave. É dado com sensacionalismo um fato por demais conhecido por todos que se interessam pelo mercado financeiro internacional. O Estado de Nevada, como diz a máxima, tem mais empresas do que habitantes, pelas facilidades, custo e garantia que dá a estrangeiros que abrem empresa para especular ou mesmo investir nos Estados Unidos. Dizer que encontrou o dinheiro da Lava Jato deveria acrescentar da Lista de Furnas, da Compra da Reeleição, da Pasta Rosa, dos Trens e Metro de São Paulo, do Maluf etc etc etc.
É óbvio que o desvio de dinheiro e o custo mais elevado provocado pela ação do senhor Paulo Roberto Costa e, possivelmente, por sua auxiliar Venina Fonseca entre outros exijam uma aferição mais profunda das contas da Petrobrás. Isto é o correto. O tempo que isto levará depende da profundidade do estudo e das decisões judiciais que venham a ser tomadas. Sem dúvida gera um ambiente de incertezas na contabilidade da companhia, mas não é um desastre como os da BP ou da Exxon. O ativo mais importante de uma empresa de petróleo é sua reserva e seu lucro vem da produção, ambos em ascensão atualmente. Pessoalmente estou aproveitando a baixa do preço para comprar ações da Petrobrás.
Fica uma lição que, infelizmente sou obrigado a reconhecer, parece que a Petrobrás não aprendeu completamente foi designar a advogada Ellen Gracie, ex-OGX, ex-STF, para a equipe de “compliance”. Meu modesto entendimento aconselharia a fazer uma profunda mudança na estrutura organizacional da Petrobrás, herança do período FHC, sob a Presidência do francês Henri Philippe Reichstul, de triste memória. Este modelo facilita ações delitosas, como a que estamos conhecendo, desarticula ações que deveriam estar sob uma única responsabilidade e aumenta o custo administrativo. Quando foi implementada objetivava fracionar e vender por partes a companhia.
Não creio que este objetivo prevaleça.
Finalmente o desenvolvimento do pré-sal. Quando você encontra um reservatório, os bancos não se furtam em financiar o que chamamos desenvolvimento do campo, pois tem a reserva como garantia. Este financiamento gera um fluxo de caixa com os preços previsíveis do petróleo. O orçamento da Chevron para 2014 foi feito com o barril a USD 110. É óbvio que, mantidos os preços atuais, o que repito não acredito, a Petrobrás precisará rever todos seus planos de desenvolvimento dos campos. Possivelmente alguns não serão econômicos com o barril de USD 60. Mas é isto que o planejamento da Petrobrás já estará fazendo: novos cenários, novos fluxos, novas taxas de atratividade a serem apresentados para decisão colegiada da Diretoria Executiva da Companhia. Isto já ocorreu em 1980 e em outras oportunidades. Toda empresa de petróleo está fazendo o mesmo, com toda certeza.
Nada de escândalo midiático, nem torcida contra o Brasil.
(Autor)
Pedro Augusto Pinho, avô aposentado
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