De um dos livros que escolhi para ler ("The World Set Free") de HG Wells, escrito em 1913 e publicado em 1914, a introdução na edição de 1921 diz:
"The dream of a World Set Free, a dream of highly educated and highly favoured leading and ruling men, voluntarily setting themselves to the task of reshaping the world, has thus far remained a dream."
("O sonho de um mundo livre, o sonho onde homens, líderes e dirigentes altamente qualificados e favorecidos, voluntariamente se oferecendo à tarefa de remodelar o mundo, até agora permanece um sonho.")Lucia Santaella nos brinda, em seu ensaio sobre pós-humanismo com a seguinte introdução: "É curioso observar que, em meados dos anos 1980, quando a internet estava emergindo e a simbiose entre os seres humanos e as máquinas apenas se insinuava, em um tipo de ficção que passou a ser conhecida sob a rúbrica de "ciberpunk", jovens escritores já pressentiam os desenvolvimentos e complexidades do estado atual e futuramente prometido das tecnologias."
Posso estar redondamente enganado. Não seria a primeira, nem a última, vez. Mas esta sensação não me larga de que muitos programas implementados recentemente só beneficiam um dos lados da balança, enquanto o outro -o lado das pessoas- fica sempre para depois. Procrastinado abertamente em nome de inovações utópicas ou daqueles "bolos que esperamos, esperamos e... nunca cresceram".
A indústria recebe isenções e benefícios fiscais, criando bolhas de índices de produção que irão explodir mais adiante na cara do consumidor e do povo que não consome, também. Isto tudo enquanto, ela própria, não melhora nem produto nem produção. E, socialmente continuamos iguais.
Aqui e alí, aparecem bolsões temporários e limitados de inovação, observados e assumidos por alguns setores.
Resumindo, o sistema econômico é beneficiado, enquanto as pessoas são assumidas, unicamente, como consumidores. Mercados...
O paradoxo está em que, ao aumentar produção reduzindo custos com mão de obra, reduz-se também a quantidade de consumo. Visto que, se não há salários, ou então, pagam-se menos salários, haverá menos gente comprando. O 'mercado' diminui na mesma medida. Será que estou tão engando assim?
Será que ninguém pode ver como a transformação das pessoas em simples prestadores de serviços não anula a equação?
Tempos depois de ter publicado este post encontrei esta charge que ilustra diligentemente o post.
Não me furto a compartirla com vocês.
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Referências:
Biagio Jr., N., It's always about people, stupid!Rüdiger F., Breve história do pós-humanismo:Elementos de genealogia e criticismo em Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, PUC-RS
Santaella, L., Pós-Humano, por quê? REVISTA USP, São Paulo, n.74, p. 126-137, junho/agosto 2007
Quill, E., When Networks Network em Sciencenews, vol. 182 #6 (p. 18) Set. 2012..
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