quarta-feira, 28 de maio de 2014

Tecnologias, Conhecimento e... nós

Comecei a me interessar por "informação", "história", "sociologia" (sim, entre aspas, que seu significado mudou muito a medida que aprendia e ainda tento entender...) e outras humanidades em geral depois de ler -como diversão- Isaac Asimov. O texto do Radhfarer, além de tratar de alguns dos meus favoritos (Spinoza, Goethe, et al...), me remeteu direto ao Asimov, sua Psico-História (em Fundação, por exemplo) e suas previsões sobre cálculos de reações humanas como ciência. E dai a uma outra velha discussão sobre os limites entre ciências e artes. Entre o exato e o fractal. O humano como um mosaico de mosaicos (de mosaicos...) e as ciências como a parede, a superfície onde eles estão.
O vaso que a contem.

Sim, uma outra perspectiva.
E, ao mesmo tempo, mostrar corretamente, que o conhecimento não é algo que pré-existe em local ou tempo. Ele é produto da relação feita, pontual e conscientemente, de informações. A soma de "pequenos discursos" ao que já sabemos (ou pensamos saber) e a mudança que isto acarreta em nós e no que poderemos fazer a partir deste ponto.


Não, não há receitas prontas. Podemos concentrar 10, 1000 ou 100000 pessoas no mesmo ambiente, mostrar a mesma informação e ainda assim, bem provavelmente, terás 10, 1000 ou 100000 conhecimentos novos diferentes. E a interação destas pessoas gerará muito mais. Cada qual aportando sua própria e particular versão.
Mude qualquer um dos elementos anteriores e o resultado todo muda.

Desde os "Baby Boomers" da pós-guerra, até hoje, vão lá uns 60 anos, quando muito. E hoje, ainda por cima, falamos em fenômenos sociais on-line, assumindo uma vida paralela comparada à off-line, à desplugada (unplugged) que acorda com o sol e se molha com a chuva. Expomos nossas crianças a babás digitais por falta de tempo, ou por perdermos o fio da meada do que deveria ser tecnologia. Ou então, o que ela deveria nos proporcionar; tempo. O tempo para construir-nos a nós mesmos. Para melhorar, aprender e relacionar-nos, uns com os outros, de forma melhor. Desenvolvemos tecnologia, ferramentas. Assumimos sua velocidade e cultura, e ainda nos assombramos quando vemos que nossos filhos se encaixam em descrições como esta:

"Os digital natives estão inseridos em uma nova cultura, em que a identidade é construída a partir de gostos e informações compartilhadas em grupos ou comunidades virtuais. Sua popularidade, seu impacto, é pautada pela quantidade de amigos virtuais, gadgets que possuem (bem como sua tecnologia) e placares nos jogos em rede."

E que digital natives poderia facilmente ser substituído por Geração X, Y, Z, n, sem o menor constrangimento. É só olhar para trás.

E neste processo todo, vamos esquecendo que aquela "vida unplugged" não deixa de ser, e estar, porque não prestamos a devida atenção nela. Desenvolvemos tecnologia, cada vez mais e mais rápida. Esquecemos, pelo caminho, de desenvolver a nós mesmos junto com ela. Podemos ter aprendido alguns truques, mas continuamos; "homem, o lobo do homem".
Podemos cometer erros garrafais, reconheçamo, mas não tencionemos -de forma alguma- fazer deles a base do nosso futuro.
E poderiamos usar isto como um chamado de alerta (heads-up, people!).

tic-tic-tic

Acho que esses temores toda geração têm os seus. Houve (não sei se aqui houve) quando o "temor da vez" era a leitura de histórias em quadrinhos. Que fariam nossas cabeças (confesso, eu era um ávido leitor!) deformar em pensamentos enviezados ou fora dos padrões ditos 'convencionais'. Liamos até a exaustão, trocavamos e re-liamos comentando como críticos tarimbados, esperando o próximo exemplar mensal.
Enquanto isso, a "vida unplugged" ainda seduzia com bolas, pipas, amarelinhas e piões.
Fantasia analógica de outros tempos.

A diferença era somente o acesso à tecnologia. E ela não aparece do nada. Fomos nós mesmos, aqueles dos quadrinhos, que criamos as condições para seu desenvolvimento. Que criamos as condições para seu acesso ser mais fácil. Que criamos as condições para seu replicamento viral! Acho que era esse o "temor da vez" de então; que nossas idéias enviezadas acabassem criando condições para mudar o mundo. Demos o primeiro pontapé, enquanto nossas idéias voavam e pulavamos etapas a rodar encurtando espaços.
Fantasia digital de novos tempos.

Parafraseando o Sr. Gonçalves (L.Radfahrer): "Como diz qualquer consultora de moda: "se não usou no ano passado, não vai mais usar."

Não tenho a menor ideia, simplesmente parou de funcionar.

Aos futuros pesquisadores restará refinar a surpresa daqueles outros pesquisadores que, logo após Colombo, perceberam que tinha sido descoberta a outra metade desconhecida do mundo. Desta vez, com o concurso da tecnologia; dentro de cada um de nós... onde, mesmo quem não participa, significa.


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