quarta-feira, 30 de março de 2016

Eu sei nada...


Qual seria o sentido da vida, senão o maravilhamento da descoberta.
Deus me livre de algum dia vir a saber tudo. Melhor ainda, livre toda a humanidade de alguma vez o vir a saber.

Mantenhamo-nos maravilhados!





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segunda-feira, 21 de março de 2016

Ter ou Ser?

As concepções dos humanistas radicais podem diferir e, em algumas ocasiões, podem até  parecer contradizer-se mutuamente, mas todas participam das seguintes ideias:
  • Que a produção deve atender às reais necessidades do povo, e não às exigências do sistema econômico;
  • Que deve ser estabelecida uma nova relação entre as pessoas e a natureza, que seja de cooperação e não de exploração;
  • Que o antagonismo mútuo deve ser substituído pela solidariedade;
  • Que o objetivo de todas as organizações sociais deve ser o bem-estar humano e desviar-se do contrario;
  • Que se deve empenhar não para o máximo consumo, mas pelo consumo adequado que favoreça ao bem-estar;
  • Que o indivíduo deve ser ativo participante da vida social, e não um participante passivo
E ainda, Albert Schweitzer nos previne de uma iminente crise da cultura ocidental. "É óbvio", declara ele, "que estamos num processo de autodestruição cultural. O que fica também não constitui garantia para ninguém. Permanece ainda porque não foi exposto a pressão destrutiva a que o resto já sucumbiu. Mas também é edificado sobre a areia (Geröll). O próximo desmoronamento pode leva-lo (Bergrutsch)...

Jardim Hospital do Mandaqui, São Paulo, SP

A capacidade cultural do homem moderno está diminuindo porque as circunstâncias que o envolvem diminuem-no e causam-lhe danos físicos."
(Schweitzer, A., Die Schuld der Philosophie an dem Niedergang der Kultur, 1923)

Ainda que, no contexto de Schweitzer, o 'desmoronamento' aconteça logo depois e dure por vários anos, entre euforia e lamentos. Uma catarse que atinge o mundo todo e o transforma de uma vez por todas.
E para sempre.

Os locci do poder mudam, definitivamente, de lugar. Aqui e ali, fúteis e frustrantes tentativas de nova organização social. Uma dicotomia antagônica a la Levi-Strauss; nós e eles, que perdura estertorando até os dias atuais.

E, bem antes disso, dizia Wells; "Encontramos na França, lado a lado, inspirados pelo mesmo espírito e como parte naturais do mesmo movimento revolucionário homens que, de olhos postos nas taxas e tributos do governante, declaravam que a propriedade devia ser inviolável, e outros que, de olhos postos nos duros contratos do empregador, declaravam que a propriedade deveria ser abolida.
Mas a oposição, a revolta real, em cada caso, era contra o fato de tanto o governante quanto o empregador, em vez de se tornarem servos da comunidade, se conservarem, ainda, como o resto da humanidade, indivíduos egoístas e opressores."
(H.G. Wells, The Outline of History, 1919)

A vida apresentada na propaganda é muito melhor do que a vida cá fora, a real.
Um culto à imagem idealizada e padrões impostos por desconhecidos cientistas de opiniões alheias. Formadores de opinião, criadores de mitos e verdades de trinta minutos, capazes de influenciar gerações e atitudes.
Pare e pense um momento; você paga para assistir comerciais na TV.

E ingênuos, como acontece com as gotas da chuva, inocentes da inundação, também não vemos nada de mais na nossa participação no caos que semeamos.

Pq. Barigui, Curitiba, PR




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domingo, 13 de março de 2016

Políticas e Analfabetos Disfuncionais

Independente do que o IBGE diga sobre índices de alfabetização no Brasil, outros institutos também fizeram pesquisas sobre educação e o resultado foi outro.
Os institutos Ação Educativa e o Paulo Montenegro mostram que o quadro real atinge cerca de 68% da população, que somados aos 8% da totalmente analfabeta, dá 76% da população que não possui o domínio pleno da leitura, da escrita e das operações matemáticas, ou apenas um em cada quatro brasileiros (25% da população) é plenamente alfabetizado...


Um governo de coalizão, por mais que não queiramos enxergar, expõe sim, a constrangedora situação que em que se encontra o governo da Presidenta Dilma. Um executivo perdido frente aos dois outros corpos confusos, autofágicos e insensíveis, numa vendeta particular. Onde hão de se aproveitar da confusão para acertar velhas rixas partidárias e agendas pessoais.

No momento em que o país precisa de gestos de desprendimento e coragem, houve um retalhamento e divisão gerencial movida à grito, na busca de maior evidência sectária. Não, nunca no interesse da nação, arcaico modelo esquecido, mas de assuntos mais mundanos e mesquinhos.


Ninguém em sã consciência pode acreditar que um governo de coalizão, sem uma mudança efetiva, irá melhorar o resultado de suas pastas. E, muito menos que esse resultado aconteceria em poucos meses.
Quem espera isso pode ser confundido com um idiota.


É exatamente uma boa hora de exigir que, de uma vez por todas, se comece a atender as conveniências e interesses republicanos. Que o povo, corpo da República, seja por fim beneficiado. Não só os excelentíssimos senhores senadores ou deputados.
Nem a juizes e procuradores.


Enquanto o país estiver mergulhado em crises políticas e econômicas cada vez mais graves, e a mídia partidária alimente com meias verdades ainda mais a confusão, não saberemos quem, nem quanto, são culpados. Ou do que, afinal.
Só colecionaremos suspeitos e delatores de um lado e juízes e carrascos do outro.

Transformamos a história do país numa sequência de sustos e surpresas, comuns às novelas da Globo.

Sim, é chegada a hora de esclarecer o que, em todo este tempo desde Floriano, tem acontecido.
Mas, os órgãos de controle e fiscalização, filhos de ardíz, não deverão ter desenhado limites de antemão nas suas funções. Estes sim enquanto aqueles não, escopos de diligências tingidas à colorações, tendências ou interesses políticos ou econômicos.
Sejamos, por fim, ambidestros.

A opção será devolver pros índios e pedir asilo, cortezmente.

Os mais pobres, como sempre, serão a moeda de barganha no discurso cada vez que algum político se auto investir de Salvador da Pátria, aqui não há nada de novo!
Até hoje nenhum "Salvador da Pátria" se lembrou do povo DEPOIS de ganhar o pleito, nenhum deles foi convidado à festa da posse. A "não presidente", será igual aos "presidentes não" que antes, e bem provavelmente, depois irão desfilar na rampa do Palácio em Brasília.
Pagaremos caro por políticos incompetentes lotearem e assumirem postos técnicos.

A sensação que nos resta é a mesma que antes sempre nos restou: "O Brasil é um país que de noite refaz tudo, o que de dia, Brasília desfez".



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terça-feira, 8 de março de 2016

Leitura, niveis de leitura e entropia visual

1.-
Biologicamente somos construídos -configurados, se preferir- para responder a estímulos externos.
Analogicamente, nos conectamos ao nosso meio-ambiente, mesmo que não prestemos atenção ao fato. Se não sabia; somos parte de todo ao nosso redor, queiramos ou não.
Conformemo-nos.


Assim que nascemos, somos imediatamente incomodados pela luz, não mais filtrada pelos fluidos e o corpo da nossa mãe e, pelo afago das correntes de vento, quando atingem nosso maior órgão, a pele.
A duras penas, nos acostumamos, e com o tempo aprendemos, primeiro por imitação e depois, já inseridos no ensino oficial, que o mundo lá fora de nós, é muito... mas muito, maior.
Oy vey!

Mas, mesmo antes de aprendermos o significado de nosso primeiro sorriso infantil, percebemos que nos movimentamos em um mundo semiótico. Onde objetos e coisas significam dentro do seu contexto imediato e a eles adicionamos a soma que somos nós. Ainda que muitos passemos pela vida sem nem sequer imaginar o que venha a ser semiótica.
Cada um de nós, a sua.


2.-
Azul para mim 'significa' uma coisa, enquanto o mesmo azul, para você ou eles, significa outra.
E vamos criando... repertório, por assim dizer, num caleidoscópio sempre a rodar.


Usamos esse 'repertório' diariamente para comunicar e comunicar-nos, uns com os outros. Coisa simples pois, para comunicar-nos (verbalmente), existem somente 6912 idiomas em todo o mundo, segundo o compêndio Ethnologue. Nem irei falar nos dialetos e outros patois que circulam. 6912 idiomas já dão suficiente dor de cabeça e confusão.
Lembre-se da história de Babel.

Se a cada elemento semiótico adicionamos um valor, como sentido e/ou significado, poderíamos adicionar uns quatro níveis ao caleidoscópio da figura acima, por cada elemento. E assim atravessamos a vida dançando nesse campo minado de formas e significados.

Respondendo, e incluindo, ao Sartre, se "o inferno são os outros", e eu sou 'os outros' dalguém, meus significantes e seus significados, surpreendem, assombram e agridem, se forem ao menos levados em conta e de outra forma são/seriam considerados, na melhor das hipóteses: Arte.


3.-
E a arte é uma representação muito particular de vários níveis de dimensão. Nem sempre comprometidas com entendimento ou cognição. Paradoxalmente, tanto de quem faz, quanto de quem olha. Pois admirar é algo que só faz quem vê o salto gracioso e elegante do tigre, quando este pula, sorrindo silencioso, na nossa direção.
O resto é pura percepção... às vezes.
Oy vey... de novo!


A arte também, nos leva à gênese de novos signos. O que, com a tecnologia, deixou de ser sua propriedade única e exclusiva. Hoje, qualquer id... um com um sistema mixo, consegue socializar seus 'pensamentos' com o apertar acidental de um botão.
Haja visto, este meu exemplo aqui.

Mas não se orgulhe ainda, a maioria de nós, não validamos nada. Muito pelo contrario, somos, quando muito, validados pelo resto. O que está fora de nós. Repetimos semas limitados ao que existe ou acreditamos seja verdade. (sic)

Se fizermos uma comparação em retrospecto, veremos que continuamos repetindo os artistas rupestres de Altamira ou Portugal. Nem percebemos que a memória deixou de ser individual e passou a ser um bem, armazenado e vendido, como qualquer outra mercadoria, pelos seus novos donos. Passamos, vertiginosamente, da pedra e dos livros para o digital. De bibliotecas silenciosas, passamos para Data-Centers, gelados e escuros. Mas, "tout va très bien", como diz a antiga canção dos Collegians.



Um byte é a unidade mínima de informação digital, o mais comum consiste de 8 bits. Um bit é a menor unidade de dados no computador. Bit é o acrônimo em inglês para dígito binário (binary digit = bit). Tem somente um de dois valores: 0 ou 1.
Depois da internet, os níveis linguísticos comentados por Saussure se esvaem na nuvem.




"Somewhere in the muck of frustration and guilt, however, is the secret thrill of starting over."  - Christina Xu

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terça-feira, 1 de março de 2016

Viagem Pitoresca ao Brasil, de Debret

Por: Eliana Rezende & Lionel Bethancourt


História pode também ser escrita por imagens, e livros nem sempre precisam de palavras dispostas umas após outras para compor um enredo. Este é o caso do livro "Viagem Pitoresca ao Brasil”, uma obra de Jean Baptiste Debret.

Imagens que povoam nosso imaginário, que são nossas velhas conhecidas desde os tempos de escola e que olhadas séculos depois nos mostram tanto! Caso não conheça, ou não se lembre, clique aqui para (re)ver/lembrar/conhecer.



A beleza e precisão dos traços de Debret são fantásticos e nos fazem pensar sobre o quanto hoje em dia as mãos e as possibilidades que estas tem de traçar e desenhar se afastam disso e aproximam-se de teclados e mouses....
Será que estaríamos desaprendendo?

Bem, não sejamos tão radicais. Desaprendendo talvez não.

Há, contudo, uma certa carga de imediatismo adicionada à fórmula de criação. Uma grande carga de imediatismo. Os materiais continuam acessíveis, e ainda mais, porém a velocidade de produção de resultados é que aumentou. E, definitivamente, tem algumas técnicas que requerem tempo.
Tempo para aprender e tempo para produzir... arte.

Na época em que Debret e seus colegas fizeram a viagem, o tempo transcorrido entre rascunho e obra acabada, teriam causado sua demissão de qualquer editora moderna. Hoje somos balizados por parâmetros: tempo, produção, custo. Produzir mais, consumindo menos. Tudo para ontem.

Ainda há bolsões heroicos de resistência, basta procurar com atenção. Veja, por exemplo o Behance e o DeviantArts, onde se estimula a criação pela exposição de iguais. Algo parecido com "The Studio" (de Manhattan em 1975) de Jones, Kaluta, Windsor-Smith e Wrightson, onde o ambiente compartilhado e a exposição mútua estimulava a criação um do outro. Guardadas as devidas proporções, claro.
Sim, temos que largar os teclados, os Cintiqs, e pegar um pouco mais no lápis e carvões.
Treinamento faz...




A criatividade é um elemento de fato muito interessante. A produção de Debret em seu tempo conseguiu trazer uma riqueza de detalhes que provavelmente nos dias de hoje passariam desapercebidos.

Lápis também é tecnologia e, é o olho que vê e a mente que cria, que tem esse poder de nos remeter a um tempo e espaço que hoje já não existem mais. O artista nesse caso, preocupava-se com a fidedignidade da imagem, mas com certeza introduzia elementos que tornavam sua imagem o "mais real" e factível possível.

Hoje acho que acabamos delegando muito às tecnologias. Agudeza, profundidade e minúcia não parecem constar em muitos dicionários de ditos profissionais.
De fato, precisamos aprender com esses traços.

Se tomarmos o tripé citado acima: tempo, produção e custo, toca no ponto fulcral de toda essa imediaticidade que aflige e poda qualquer criativo.
Que criatividade resiste a tal tripé?
De outro lado tanta imediaticidade garantirá quanto tempo de permanência?
Temos traços feitos há 300, 500, 1.000, 2.000 anos, mas será que teremos essa permanecia para as produções atuais?
E aí, caímos na discussão de outro post sobre a preservação digital de toda a nossa produção humana, incluindo as artes. Eis a importância de termos oásis e possibilidades de resistência criativa.

Um destes exemplos pode igualmente ser visto neste vídeo, da Café Communications, sobre tempo e criatividade.
Acho (achismo solto) que já deve ser farto conhecido de todos, pois roda faz algum tempo pela web. Mas para quem não conhece é uma excelente oportunidade e para quem conhece é uma ótima oportunidade de rever.




Após ver aquele, deveríamos sentar e assistir esta palestra (de 11min) do David Kelley na TED sobre como criar confiança criativa (clique aqui para ver). E teremos um contexto todo diferente sobre criatividade, tempo e... auto-eficiência.


Bons traços!




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