segunda-feira, 21 de março de 2016

Ter ou Ser?

As concepções dos humanistas radicais podem diferir e, em algumas ocasiões, podem até  parecer contradizer-se mutuamente, mas todas participam das seguintes ideias:
  • Que a produção deve atender às reais necessidades do povo, e não às exigências do sistema econômico;
  • Que deve ser estabelecida uma nova relação entre as pessoas e a natureza, que seja de cooperação e não de exploração;
  • Que o antagonismo mútuo deve ser substituído pela solidariedade;
  • Que o objetivo de todas as organizações sociais deve ser o bem-estar humano e desviar-se do contrario;
  • Que se deve empenhar não para o máximo consumo, mas pelo consumo adequado que favoreça ao bem-estar;
  • Que o indivíduo deve ser ativo participante da vida social, e não um participante passivo
E ainda, Albert Schweitzer nos previne de uma iminente crise da cultura ocidental. "É óbvio", declara ele, "que estamos num processo de autodestruição cultural. O que fica também não constitui garantia para ninguém. Permanece ainda porque não foi exposto a pressão destrutiva a que o resto já sucumbiu. Mas também é edificado sobre a areia (Geröll). O próximo desmoronamento pode leva-lo (Bergrutsch)...

Jardim Hospital do Mandaqui, São Paulo, SP

A capacidade cultural do homem moderno está diminuindo porque as circunstâncias que o envolvem diminuem-no e causam-lhe danos físicos."
(Schweitzer, A., Die Schuld der Philosophie an dem Niedergang der Kultur, 1923)

Ainda que, no contexto de Schweitzer, o 'desmoronamento' aconteça logo depois e dure por vários anos, entre euforia e lamentos. Uma catarse que atinge o mundo todo e o transforma de uma vez por todas.
E para sempre.

Os locci do poder mudam, definitivamente, de lugar. Aqui e ali, fúteis e frustrantes tentativas de nova organização social. Uma dicotomia antagônica a la Levi-Strauss; nós e eles, que perdura estertorando até os dias atuais.

E, bem antes disso, dizia Wells; "Encontramos na França, lado a lado, inspirados pelo mesmo espírito e como parte naturais do mesmo movimento revolucionário homens que, de olhos postos nas taxas e tributos do governante, declaravam que a propriedade devia ser inviolável, e outros que, de olhos postos nos duros contratos do empregador, declaravam que a propriedade deveria ser abolida.
Mas a oposição, a revolta real, em cada caso, era contra o fato de tanto o governante quanto o empregador, em vez de se tornarem servos da comunidade, se conservarem, ainda, como o resto da humanidade, indivíduos egoístas e opressores."
(H.G. Wells, The Outline of History, 1919)

A vida apresentada na propaganda é muito melhor do que a vida cá fora, a real.
Um culto à imagem idealizada e padrões impostos por desconhecidos cientistas de opiniões alheias. Formadores de opinião, criadores de mitos e verdades de trinta minutos, capazes de influenciar gerações e atitudes.
Pare e pense um momento; você paga para assistir comerciais na TV.

E ingênuos, como acontece com as gotas da chuva, inocentes da inundação, também não vemos nada de mais na nossa participação no caos que semeamos.

Pq. Barigui, Curitiba, PR




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