domingo, 11 de novembro de 2018

De Monstros e ninguém mais

A primeira vez que escutei falar em "stakeholders", imediatamente me veio à cabeça a imagem de uma turba ensandecida, correndo aloprada e gritando com tochas e paus (os tais 'stakes') atrás de algo bem diferente de tudo o que eles conheciam.
Um monstro!

Hoje, me dizem que não, não são monstros aloprados, nem turba ensandecida. São as 'partes interessadas', o 'público estratégico', os 'interessados indiretos', e os principais causadores dos maiores transtornos aos cronogramas e especificações dos projetos. Prosumers, produzem e ao mesmo tempo consumem a produção de notícias e comunicação. Uma força quase que incontrolável e muito imprevisível. Uma Hydra, onde o erro se reproduz a cada cabeça cortada muito mais rapidamente.
Hmm...


Tenho que me desfazer desta minha impressão do texto da Sra. Wollstonecraft Shelley, e ao mesmo tempo criar um novo escaninho para a definição de "stake". Para mim, o tal monstro não é culpado de nada, mas os stakeholders (and screamers), por outro lado, sim.

Desde os tempos do DOS 2.0, e dos batch files, de comandos simples e univocos que carrego um pet peeve contra os tais stakeholders. Várias vezes cheguei a reclamar com o "El Supremo", um dos meus chefes da época: "Esses PhDs wannabes têm dez dedos nas mãos e conseguem apertar onze teclas ao mesmo tempo! Nenhuma delas a tecla certa!".
RRB olhava para mim, e sorria.


Hoje as coisas mudaram um pouco. Hoje, as personas nas sombras, os prosumers de redes, escolhem sem medo de identificação. Sim, aquelas que insultaram no estádio, furaram as filas, erraram no troco, dançaram com o pato, mentiram e ameaçaram em grupo. O que, não sei por qual motivo, me leva a lembrar umas rimas mexicanas do século xvii, onde Juana Inês de la Cruz diz:

"(...)
Parecer quiere el denuedo (Parecer quer a ousadia)
de vuestro parecer loco (de sua opinião maluca)
al niño que pone el coco (à criança que veste a fantasia)
y luego le tiene miedo. (e depois fica com medo da cuca)
(...)"

Espero que estejam confortáveis para a viagem que faremos a seguir. Teremos caminhos difíceis à frente, e sua rede... pode cair.


segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Odeio Crawl


Enquanto nado me pego a pensar; "como não gosto de crawl".
Minha respiração, que normalmente não é muito boa, é ainda mais dificultada pelo médio e minha falta de treino no exercício. Além do mais, chego a constatação de que, se tiver que nadar para salvar minha vida, bem provavelmente, irei morrer no meio da empreitada.

Se soltarem um tubarão na piscina, não irei melhorar minha performance, e ainda terão que trocar a água toda, pois não penso sair graciosamente.
Deste morto eles lembrarão por um boooom tempo!
Minha velocidade na piscina só melhorará quando tirarem toda essa água que me atrapalha.

Engraçado que nadando de costas consigo ir de um lado ao outro sem problemas. Nem penso no assunto. De fato esvazio a mente, e consigo pensar em outras coisas. Como, no quanto não gosto de crawl.
Por exemplo.



...


Tai, não falei em política, nem fiz proselitismo.
Viu?

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Da Metalinguagem nos Quadrinhos

Lembrei, nem sei bem porque, desta monografia que fiz ainda na Idade da Pedra (na ECA-USP, no final do século passado). Achei engraçada e inocente (era jovem, cheio de ideias e imortal).
Transcrevo aqui.
I warn you, brace yourselves!




Jé suis la Sarah Bernhard de la bande desinée!


Introdução

Dentre todos os temas apresentados no programa de Estética, temos escolhido este: A Metalinguagem, por acharmos que é algo que está, entre aquilo que comumente chamamos de óbvio e, ninguém lhe presta a menor atenção.
Consideramos que a metalinguagem seja mais importante do que aparenta. Tão importante que não há estudo ou crítica que prescinda dela. Sem ela a crítica não existiria - o que de fato acontece, mas ninguém consegue enxergar - onde só existe uma metalinguagem artística. Outra característica da metalinguagem é que ela consegue traduzir, se não na integra a maior parte, de qualquer linguagem a uma só.
Poderia inclusive, ousando um pouco, abusando da schutzpa, definir o que é linguagem e o que não é, pela sua presença. Ou não. Frisson nos Gestalticos.

Para ter mais ou menos uma visão geral do que seja metalinguagem, referimo-nos a escritos sobre semântica e linguística (dos quais fizemos maior uso dos estruturalistas) entre eles o "Curso de Linguística Geral" de F. Saussure, de onde pesquisamos os estatutos da linguagem, e "Elementos de Semiologia" de R. Barthes, onde fomos atrás da definição dos sistemas significantes que, junto com os anteriores nos definiriam o tipo de linguagem das expressões artísticas, ignorantes da polêmica que esta tem gerado entre os círculos teóricos.

Fizemos uso também de alguns livros sobre técnicas de pesquisa na história da arte (Nessi) e outros sobre análise de quadrinhos, nosso maior fornecedor de exemplos metalinguísticos (Cirne).

Definimos o termo: metalinguagem e logo após fizemos uma classificação, um tanto rudimentar dele enquanto uso dentro das artes plásticas em particular. Não fizemos muito tempo dentro de cada item para não forçar o tema e para que não nos tornássemos monótonos e cansativos, mas nem por isso fomos lacônicos em nossa apresentação.

O único item que talvez precise de um pouco mais de informação seria o de linguagem da arte, por isso, seria conveniente dar um lida nos escritos de Kosuth, Pignatari, Jackobson e Garroni (sobre cinema e arquitetura) e, talvez se fosse possível, dar uma lida na monografia: "A Arte é Linguagem?", apresentada para esta mesma cadeira.

Veja bem que isto não significa uma concordância total com todos esses autores, em todos os aspectos, mas é muito melhor ter uma base informativa própria para poder, com melhores circunstâncias, chegar a uma conclusão subjetiva neste ponto.

Sobre Linguagem

Para a existência da metalinguagem deverá existir um código comum aplicável a todos... neste caso a linguagem.
Mas, até onde chega este código comum, esta sua aplicabilidade - sua codificação-decodificação-recodificação - nas artes visuais?
Explicaremos para eventual aplicação, em relação à metalinguagem, no que consiste e, se na realidade, existe uma linguagem nas artes visuais. (1)

O que é linguagem?

A linguagem, em Saussure, precursor dos Estruturalistas, é uma faculdade, um fato social. Mas, isto não responde nossa pergunta anterior. Deveríamos então perguntar em que consiste essa faculdade ou, como se dá esse fato social?
Ora, essa faculdade consiste na língua (2) e na fala (3). E, o fato social se dá, cada vez que se estabelece comunicação entre dois ou mais indivíduos.

Resumindo, podemos dizer que a linguagem é a união de língua e fala, posta em prática. Mas esta afirmação não é unívoca, por isso "deve haver outras formalidades aliadas à estas duas", para que o ato da comunicação, ou pelo menos a apresentação de qualquer informação banal, possa ser realizada efetivamente.

Consideramos como necessários os três fatos seguintes:


Cumpridas estas três formalidades, a comunicação social seria possível.

Nesta segunda parte, onde encerramos o primeiro item da monografia, trataremos sobre a arte na linguagem e a linguagem da arte, parecerá a primeira vista um jogo de palavras, mas existe uma grande diferença entre esses dois enunciados. Tanto do ponto de vista de estudo como prático, como eventualmente tentaremos expor.

Arte é Linguagem?

A denotação de arte, apresentada pelo dicionário é a seguinte (4):


Lida, a explicação não se encaixa com o conceito atual do que seja "arte". A arte (global) deixou de ser uma procura de sensações, uma vez que dá margem para múltiplas soluções conotativas. Mas, isto não implica a inexistência de sensações causadas pela arte... muito pelo contrario, a engloba junto com toda uma série de respostas conscientes difíceis de delimitar umas das outras.

Podemos afirmar que a arte não é mais a sensação do belo somente; deixou de ser isto para se transformar. Que digo transformar? Se afirmar nela mesma!
Deixou de ser representação para ser seu próprio objeto!

A linguagem da Arte

A semiologia de Barthes, tem com uma das suas tarefas pesquisar se a arte é linguagem.
Efetiva seu objetivo mediante o estudo dos conjuntos significantes entre os quais a arte e a linguagem se inscrevem. Para isto vê-se forçada a introduzir as distinções, os campos, que se impõem entre as linguagens e os outros sistemas de signos.
Dufrene, faz uma classificação sumaria desses campos semiológicos (5):


Estes três planos, é claro, não estão rigorosamente separados; o mesmo conjunto significante pode se estender sobre os três, mas se articula, principalmente sobre um deles.
A arte é a representante do campo supra-linguístico.

A arte é - isto é - não é, considerada como uma linguagem por certos autores, mas, é tão descontraída que não apresenta afasia nenhuma, nalgumas de suas manifestações mais simples. (6)

Sobre Metalinguagem

Agora, nesta segunda parte do trabalho, trataremos mais sobre metalinguagem do que linguagem. Metalinguagem esta, vista nas expressões artísticas. Primeiro, uma visão do que é metalinguagem para vários autores, e depois, uma amostra das operações metalinguísticas nalgumas manifestações artísticas (tomaremos como exemplo as histórias em quadrinhos).

O que é metalinguagem, segundo alguns autores

Uma distinção foi feita na lógica moderna entre dois níveis de linguagem: a "linguagem-objeto", que fala de objetos e a metalinguagem, que fala da linguagem.

Além de instrumento científico, utilizado por lógicos e linguistas, a metalinguagem é usada cada vez que for preciso testar o código que está sendo utilizado numa atividade comunicativa básica, diz Jakobson (7). Mas, esta definição não poderia ser aplicada indiscriminadamente, isto é, fazendo uma generalização dela como um todo nas artes, uma vez que existem manifestações artísticas "sem resposta" evidente (8).

Para Nessi, metalinguagem, são os sistemas simbólicos nos quais está baseada a obra de arte.

Pignatari define a metalinguagem da seguinte maneira: "a metalinguagem é a linguagem com que se estuda, é a linguagem instrumental, crítico-analítica, a que permite estudar a linguagem-objeto sem com ela se confundir". Ou ainda: "quando a linguagem-objeto se volta sobre si mesma, ela tende a ser metalinguagem, beneficiando-se da fenomenologia. Este fenômeno é particularmente notável nas revoluções artísticas e de design (Dada, Neoplasticismo e Pop, nas artes visuais). A metalinguagem é um processo dinâmico, mas é comum ver como ela tende a se estratificar em código, confundindo-se então com o jargão técnico especializado" (10).

Enquanto que, para Cirne, a metalinguagem é: "a crítica exercida sobre o produto artístico ou científico (linguagem-objeto), mas pode também ter outros níveis semióticos".

Dentro do mesmo livro de Cirne, encontramos ainda duas definições atribuídas a Barthes. A primeira: "a linguagem-objeto é a própria matéria submetida a investigação lógica; a metalinguagem é a lingugem forçosamente artificial, na qual se procede esta investigação".
E a segunda, é aquela que tmbém encontramos no "Elements de Semiologie", onde a metalinguagem é um sistema no qual o pleno conteúdo, ele próprio é constituído por um sistema de significação; ou ainda uma semiótica que trata da semiótica".

Os outros niveis semióticos da metalinguagem citados por Cirne são:


Estas definições, que consideramos anteriormente, não podem em geral ser aplicadas à arte sem antes ter considerado a diferença que existe entre a linguagem propriamente dita e a 'expressão plástica'.

Para isto, dividimos este segundo item em dois. Acabada esta primeira parte, passamos à aplicação da metalinguagem nas artes... tomamos para os exemplos, os desenhos em quadrinhos.

Como se dá a metalinguagem na Arte?

Como vimos anteriormente, a metalinguagem é a linguagem falando da linguagem. Nas artes visuais seria algo mais ou menos assim: a arte falando da arte.
Como?
Dentro dos exemplos que temos escolhido, notamos três formas, ou poderíamos dizer, níveis de ação metalinguísticas:

 
A arte falando da arte (exemplo 1): neste caso, os quadrinhos falando dos quadrinhos, onde se faz uso de todos os elementos característicos (desenho-texto-sequência-etc.) à forma global da expressão.
Uma das maiores características desse tipo, em particular, de metalinguagem é a apresentação de um paramundo, onde existem, eles - os personagens dos quadrinhos - a meio caminho entre o espectador/leitor e o quadrinho (ambiente onde a ação acontece) propriamente.

Exemplo 1


A participação do autor, direta ou indiretamente, na trama: Um exemplo disso nos dá Cirne quando fala de Hergé participando ativamente da ação de "Les Grands moyens" (11). Encontramos também um exemplo (exemplo 2) dentro dos quadrinhos nacionais. Carlos Chagas, desenhista do 'Nestor, o vampiro' na revista Klik!, quando em determinado momento apaga um dos personagens a pedido do próprio Nestor (12). Ou, inclusive, como acontece na mesma revista na página seguinte, mas isso deixaremos de lado (13).

Exemplo 2

A consciência dos personagens (ou objetos) de sua qualidade - isto é - do que realmente são. "Consciência" esta, alcançada mediante a referência do autor por parte dos personagens da história (exemplo 3).

Fazendo uma analogia dentro desta classificação poderíamos considerar alguns autorretratos como participantes desta classe.

Exemplo 3


A diferença entre esta duas últimas classificações é mínima, tanto que, às vezes, não é possível uma distinção definitiva dos exemplos.
Nos exemplos citados por Cirne, no capítulo referente à metalinguagem e quadrinhos, faz uma classificação da segiuinte maneira:
  1. a exigência de uma participação do consumidor;
  2. a reflexão sobre a essencialidade
que correspondem, na nossa classificação, aos itens 2 e 3. No seu livro "A linguagem dos Quadrinhos", Cirne apresenta maiores exemplos de metalinguagem, especialmente dentra das produções de Maurício de Sousa e do Ziraldo.

Nas outras manifestações artísticas, estas classificações da metalinguagem podem ser applicadas diretamente, como no caso dos autorretratos explicados anteriormente.

Considerações Finais

Num tema como este, consideramos que não pode haver uma conclusão definitiva, jamais. Sempre haverá uma nova ponderação, um ponto de vista, outra conclusão. Ainda há muita coisa a ser feita, muitos pontos contraditórios, enfim. A semiologia que deveria estudar os sistemas significantes chega a um impasse devido aos detratores das conclusões apresentadas, tanto pró- quanto contra, às definitivas definições dos campos ditos infra- e supra-linguísticos.

Como é possível a existência de uma metalinguagem dentro de um sistema que não é linguagem? Isso é um dos pontos contraditórios que avançam conosco durante toda a monografia.  Pode-se dizer que trabalhamos à sombra dessa premissa. Nosso trabalho devia ter-se cifrado numa definição maior desse ponto, o que foi impossível, por isso usamos subterfúgios e conscientemente "ignoramos" essa pergunta, de tamanha importância, que ela só daria e valeria monografia inteira.

Por tanto consideramos a monografia inteira, como uma visão sumária do que é a arte, sua linguagem e da metalinguagem e até onde pode ser aplicada.

Talvez, também, tenhamos feito afirmações ousadas demais e que depois deixamos sem explicação. Os exemplos dados talvez sejam considerados banais, sem importância nenhuma como forma de arte; mas para os efeitos das operações metalinguísticas, eles são simples, contundentes e o suficientemente sólidos na sua argumentação como para ganharem o lugar que ocuparam.

Mas, a pergunta ainda está de pé: é ou não é, uma linguagem a arte? Ou ainda, funciona a arte como uma linguagem?
Temos considerado o assunto, e decidimos que sim. A arte É e funciona como uma linguagem; só que com uma ressalva, não é igual (nem utilisa os mesmos canais) à linguagem propriamente dita

Se brincassemos um pouco com as palavras, à definição seria assim: "é uma linguagem como a linguagem, mas não como linguagem".
O que mais parece afirmação de Ad Reinhardt, quando diz: "Arte como arte não é mais que arte. Arte não é o que não é arte".
O que parece mais uma "arte".

...


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Referências
  1. ...


sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Quem tem medo do Populismo?


Populismo [De popul(o)- + ismo.] S. m. 1. Gênero literário que procura seus temas no povo. 2. Bras. Simpatia pelo povo. 3. Bras. Política fundada no aliciamento das classes sociais de menor poder aquisitivo.


O termo Populismo possui várias conotações dependendo do contexto. Geralmente é utilizado, principalmente na América Latina, para designar um conjunto de práticas políticas que consiste no estabelecimento de uma relação direta entre as massas e uma liderança política sem a mediação de instituições políticas representativas, como os partidos, ou até mesmo contra elas, empegando uma retôrica que apela para figuras difusas ("o povo", "os oprimidos", "as massas").
A política Populista caracterisa-se menos por um conteúdo determinado do que por um modo de exercício do poder.


O Populismo costumava ter sentido pejorativo, sendo usado como arma de combate discursivo, para a desqualificação do oponente. Historicamente, no entanto, o termo tornou-se uma força importante na América Latina.

"Como descrevem Max Horkheimer e Theodor Adorno, as promessas de emancipação e de democratização da modernidade caminham de mãos dadas com novas opressões, de modo que sociedades liberais e democráticas tendem a se tornar mais autoritárias em seu caráter, tendo em vista a saturação tecnocrática e burocrática de suas estruturas" (Morelock e Narita, 2018).

Ernesto Laclau, teórico político argentino, argumenta que o populismo é a melhor forma de organização política porque oferece um maior espaço e representatividade às classes usualmente excluídas. "O populismo não é ruim ou bom em si mesmo. É uma forma de construção da política, baseada na criação de uma divisão na sociedade por meio de demandas sociais. Isso ocorre quando as instituições não conseguem atender às demandas populares", diz.

O Populismo moderno é outra coisa precisamente porque recolhe e atualiza elementos típicos do populismo norte-americano de fins do século XIX, que girava sobre quatro ideias gerais, definidas por Michael Kazin (em The Populist Persuasion)
  1. São americanos, filiação esta assentada sobre os valores democráticos inalienáveis;
  2. Não representavam um grupo definido, mas todo o conjunto;
  3. Seus inimigos eram as elites; e
  4. São movimentos, grupos sempre em mudança

Por exemplo, quando Kazin no seu "A Persuasão Populista" (2017) argumenta persuasivamente que: "o poder do populismo reside em sua natureza adaptável". Em todo o espectro político, os comentaristas colam o rótulo de forças e indivíduos que realmente têm apenas uma grande coisa em comum: são eficazes em atacar "as elites" ou "o establishment", por prejudicar os interesses e trair os ideais do "povo" em nações comprometidas, pelo menos oficialmente, com os princípios democráticos."


No Brasil, o fenomeno populista corresponde a uma manipulação das massas, por parte do lider carismático, mas também a uma satisfação de aspirações longamente acalentadas por essa. Aconteceu com Getúlio, com Kubitschek, com Jánio, com Neves até, e ultimamente, com Lula. Primeiro acontece a identificação, depois, "all hell breaks loose!" Veja que são diferentes entre si, e suas agendas particulares nem sempre tem a ver com todos os interesses do "povo".

E o que é muito comum, é ver como muitos missivistas e articulistas usam o termo "populismo" com um sentido errado para justificar o próprio discurso. Não se dando ao trabalho de explicar motivo ou razão. Nem mesmo quando o populismo é utilizado pelas forças reacionárias, que insistem em manter o status quo.


Então, quando falo "Populista" ou "Populismo" não o faço pejorativamente nem de forma simplista. Atesto o fato de que esta seria a única forma de participação por grande parte do "povo" ou daqueles que formam o corpo da nação (acorda gente!!) na decisão do seu futuro. Pois democraticamente, nenhum dos três corpos oficiais, ditos representativos, o faz. Eles não representam ninguém a não ser a si próprios! Entre vários exemplos, este: aumento de 16,x % sobre um salário de mais de R$ 33 mil, enquanto "o povo" sobrevive com um mínimo de pouco mais de R$ 900.
Me diga, quem representa quem?

O povo não tem ideologia porque - nos exemplos que temos visto - é muito mais fácil não ter memória. Qualquer convocação adocicada ou aboio ritmado o tange. Nem sempre na direção certa e, não necessariamente, em benefício de seus próprios interesses.
Não reconhecem "autoridades constituídas" porque estas nunca se incomodaram com eles. A imagem que ambos têm do outro é distorcida e monstruosamente distópica.

Quando, por fim, acordados por uma imagem catalizadora, na figura de caudilho ou lider, e este, independente de qualquer corpo representativo, chamar para si o dever de liderar as massas, teremos o Populismo.

Até quando acham, os tais corpos representativos, que poderão impedir o povo de tomar para si as rédeas do seu próprio destino? Deem-lhe foco e comecem a correr.
Vejam as massas correndo! Acho bom você correr também!
See Spot run. Run Spot, run!



terça-feira, 7 de agosto de 2018

Chapter One


"...
Chapter One...
I am born.
Whether I shall turn out to be the hero of my own life, or whether that station will be held by anybody else, these pages must show. To begin my life with the beginning of my life, I record that I was born (as I have been informed and believe) on a Friday, at twelve o'clock at night. It was remarked that the clock began to strike, and I began to cry, simultaneously.
..."

Mentiram, segundo os calendários, foi numa quinta feira 27, às 06 da madrugada. Quase no meio do século xx.
Antes de poder argumentar qualquer coisa, minha avó me embrulhou "en cueros" e me mostrou aos Deuses, avisando-lhes que estavam atrasados.
Atrasados... olha só.
Sem conhecer poesia, fiquei calado, fingindo dormir cansado. Não fosse falar bobagem e estragar o momento da vó.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Arquitetura de Informação para Portais

O span de atenção do usuário é miticamente curto! Imagine um usuário tentando entender enquanto lê, o que está escrito na sua página. Antes da página carregar totalmente, ele já saiu apertando somente um botão!
Não importa o quão importante seja a sua mensagem, serviço ou produto.


Para Krug: "Quando desenhamos uma página web, faz todo sentido imaginarmos um usuário racional e atento. É natural assumir que todos usem a internet da mesma forma como a usamos. E, como todo mundo, pensamos que nosso comportamento seja mais ordenado e sensível do que realmente é." (Krug, 2000)


O que é Arquitetura de Informação?
Arquitetura de informação (AI) é ordem e sentido. Os loci informacionais (Oliveira, 2014) onde as informações digitais são assentadas. Esta estrutura, e sua repetição, faz com que as informações sejam mais fáceis de serem compreendidas. E que varias informações, diferentes mas relacionadas, possam ser aproveitadas ao mesmo tempo sem causar confusão ao usuário.
Ou, o que é muito pior; frustração.

Würman a define como: "a emergente ocupação profissional do século XXI que aborda as necessidades da Era focada na clareza, na compreensão humana e na ciência da informação".
Para o Information Architecture Institute americano é: "a prática de decidir como organizar as partes de algo para torná-lo compreensível".

O objetivo principal do arquiteto de informação é: 
Definir a missão e visão para o portal, equilibrando entre as necessidades da organização e as necessidades da audiência.
Determinar quais conteúdos e funcionalidades haverá no portal.
Especificar como os usuários encontrarão a informação no portal, definindo sua organização, navegação, nomenclatura e sistemas de busca.
Mapear como o portal irá acomodar mudança e crescimento.

Pode parecer óbvio, mas a arquitetura de informação é sobre o que não é óbvio. Os usuários somente percebem a arquitetura de informação quando ela não funciona. Contudo, quando ela funciona, imediatamente o atribuímos a qualquer outro elemento (gráficos, sistema de busca, etcetera). Não há uma descrição adequada para os componentes intangíveis que constituem a arquitetura de informação na web page.

De fato, se a Arquitetura de Informação pode ser descrita como uma disciplina, "ela não será uma com limites definidos" (Batley, 2007). 

Os elementos da arquitetura de informação são: sistemas de navegação, sistemas de nomenclatura/rotulagem, sistemas de organização, indexação, métodos de pesquisa e metáfora. Estes elementos são difíceis de mensurar e por isso mais difíceis de comparar.
Uma vez em funcionamento, eles se transformam em ecossistemas. "Onde contextos e meios estão tão fortemente interconectados que nenhum elemento único pode se destacar como uma entidade isolada" (Morville, 2014).

O arquiteto de informação deve ter que identificar tanto os objetivos do portal, quanto as informações sobre, e com, o qual será construído. Muitos designers esquecem, por exemplo, que espaços brancos são componentes tão importantes quanto qualquer outro componente da página.



Organizando a Informação
Tudo é informação! (Covert, 2015)
Nosso conhecimento do mundo depende muito da nossa habilidade de organizar a informação e seus contextos. Organizamos para entender, explicar e controlar. (Krug, 2000)
A arquitetura de informação, muito como a biblioteconomia, organiza a informação para que as pessoas possam encontrar as respostas certas às suas perguntas. E a internet nos brinda com um ambiente muito mais flexível onde a organizar.

A tarefa que antes era própria dos bibliotecários, a forca descentralizadora da internet hoje obriga a cada um de nós.
Como nomear conteúdo? Existe algum sistema de busca que possamos emprestar? Quem catalogará toda essa informação? Isso, que já foi serviço unicamente de bibliotecários, antigamente, hoje todos nós fazemos.
Uns mais, outros muito menos.

Devemos também levar em consideração que, por mais etéreas e fugazes que sejam as web pages num portal, elas também, por definição (informação + suporte = documento) são documentos. (Rezende, 2007) E, tanto quanto na Gestão Documental, estamos também, atrás de racionalidade e transparência administrativa.



Organizar informações não é assim tão fácil, não. Por exemplo; cada um de nós temos nossa própria versão sobre quase qualquer tema. Fazer com que (quase) entendamos o mesmo, enquanto as alternativas incluem formas, cor, som e movimentos é extenuante. Sempre haverá uma outra forma de explicar a mesma coisa.
Hierarquia, conteúdo e forma.
Depois de tanta organização e sistemas disto e daquilo, o único elemento da arquitetura de informação que sobra é a metáfora.

Apesar que a web é muito diferente da televisão, perceba como termos da última são usados na primeira. A metáfora é a ferramenta usada para mostrar conceitos novos como situações familiares (Nielsen, 2000). Para comunicar ideias complexas e gerar entusiasmo (Rosenfeld, 1998). É executada quando seu portal ensina, explica ou surpreende usando "degraus" que levam o usuário do ponto A até o ponto X que seu portal quer.



Uma vez resolvidos todos estes elementos; selecionar, indexar e hierarquizar a informação, escolhidos os sistemas de busca e traduzidos os conceitos à linguagem reconhecida pelo usuário, sua arquitetura de informação estará disponível.
É a partir deste momento que o Design de Informação terá melhores condições de desenvolver um projeto visual.

Nunca esqueça que o arquiteto de informação trabalha para melhorar o conteúdo do cliente, junto com os desenvolvedores e designers, para facilitar a transmissão de informação e conceitos novos e, finalmente, para possibilitar um ambiente onde o usuário se sinta tranquilo e consiga entender as informações contidas no portal.
Usualmente visitamos e voltamos a visitar portais que achamos úteis.

Resumindo; Arquitetura da Informação é sobre entender e transmitir, com eficácia e eficiência, a ideia geral do portal e seu contexto.






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Referências

Covert, A., How to Make Sense of Any Mess, e-Book, ISBN-13:978-1500615994, 2014.
Enciclopedia de Clasificaciones (2017). "Tipos de páginas web". Recuperado de: 
http://www.tiposde.org/internet/172-tipos-de-paginas-web/, acessada em 10/10/2017.
Krug, S., Don't Make Me Think! - A common sense approach to web usability, New Riders/Circle.com Library, 2000.
Information Architecture Institute, http://www.iainstitute.org/, acessada em 03/11/2017.
Nielsen, J. e Tahir, M., Homepage usability, New Riders, 2001.
Nielsen, J., Designing Web Usability, New Riders, 1999.
Niederst, J., Web Design in a Nutshell, Second Edition, O'Reilly, 2001.
Oliveira, H. P. C. de., Arquitetura da Informação Pervasiva: Contribuições Conceituais. 2013. 
Rosenfeld, L. e Morville, P., Information Architecture for the World Wide Web, OReilly, 1998.
Rezende, E. e Bethancourt, L., Design de Informação: O que é e para quê serve?, Disponível em http://eliana-rezende.com.br/design-de-informacao-o-que-e-e-para-que-serve/, acessado em 22/10/2017
Tipos de Portais, in WGabriel, "Tipos de Portais", http://wgabriel.net/arquitetura-da-informacao-e-webwriting/tipos-de-portais-web/, acessada em 10/10/2017. 
.
e mais outros.





Bonus

Preste atenção que vai precisar saber,
Pervasibidade: Capacidade ou tendência a propagar-se, infiltrar-se, difundir-se total ou inteiramente através de vários meios, canais, sistemas, tecnologias etc.



Também publicado no portal da ER Consultoria | Gestão de Informação e Memória Institucional

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Jimmy Choo


Logo depois de entrar na faculdade, no século passado, ainda meninote, tive uma professora de psicologia que numa bela noite, decidiu compartir um dos seus experimentos conosco. Experimento simples, como verão. Fez ela o seguinte: numa caixa de sapatos colocou um casal de camundongos. Em pouco tempo eles tinham reproduzido e ocupado todo o espaço da caixa. E começaram os problemas: uns atacando os outros, estupros, canibalismo, corrupção e nepotismo, etc.
E ela nos contou com um 'dettachment' que, para mim, beirava mais conto de terror que relatório científico.
Lovecraft e Grimm perderam feio naquela noite. Eram meros fofoqueiros em comparação.

Tocou a sineta e acabou a aula.


A estas alturas, eu estava irritado. Por que afinal fez isso com os animais? E cometí a ousadia de ir falar isso para ela! Me custou uma prova de recuperação. Como a maioria dos meus colegas de aula, ví somente o exterior, a forma, do experimento. Não nego que continua sendo um experimento besta e bestial, simples abuso de poder. O que aprendemos disso?

Mas, afinal o que ela fez de tão macabro assim?
Retirou um casal de animais de seu ambiente natural, os colocou num ambiente altamente controlado (eliminando assim, acasos e inimigos naturais) e alimentou. Isso é um experimento. O resultado era o que deveria-mos prever; baixa taxa de mortalidade, alta taxa de natalidade, camundongos gordos e felizes feito o Mickey da Disney. Certo?
Errado!

O "ambiente controlado" para começo de conversa é artificial. E observemos que, como neste caso específico, ele não mudou, o espaço se reduz a cada novo indivíduo introduzido. O que antes era metade (1/2), à primeira ninhada foi reduzido a 1/9 (uma ninhada de -pelo menos- 7 camundongos + os 2 primeiros x 7 ninhadas por ano + outras fêmeas procriando).
A matemática é implacável, o espaço fixo do tal "ambiente controlado" não aumentará e suportará um número limitado de indivíduos.

Desde então fiquei com esse "experimento" na cabeça e de tanto pensar nele, o abrí, em formas inesperadas.


Veja os elementos que havia, suas ações e resultados. Agora alinhe os elementos que não havia e some-os aos anteriores. Veja quais os possíveis resultados. A diferença é grande assim?
Vale a pena a adição? Há alguma mudança e qual o custo/benefício dela?

Ou, numa visão muito mais cínica; porque não vamos fazer uma revisão bibliográfica qualquer ao invés de encher o saco de animais inocentes?
Behaviorista de m...!