“A depressão é a expressão de mal-estar que faz água e ameaça afundar a nau dos bem-adaptados ao século da velocidade, da euforia prêt-à-porter,
da saúde, do exibicionismo e, como já se tornou chavão, do consumo
generalizado. A depressão é sintoma social porque desfaz, lenta e
silenciosamente, a teia de sentidos e de crenças que sustenta e ordena
a vida social desta primeira década do século XXI.
Por isso mesmo, os
depressivos, além de se sentirem na contramão de seu tempo, vêem sua
solidão agravar-se em função do desprestígio social de sua tristeza. Se o
tédio, o spleen, o luto e outras formas de abatimento são
malvistos no mundo atual, os depressivos correm o risco de ser
discriminados como doentes contagiosos, portadores da má notícia da qual
ninguém quer saber.”
Maria Rita Kehl em passagem de seu O tempo e o cão: a atualidade das depressões (São Paulo: Boitempo, 2009, p.22).
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