Às vêzes posso discordar, nem preciso anuir sempre, mas desta vez sou voto vencido. Sinto a mesma vergonha de um e a ira impaciente do outro. Mesmo que o poema seja de Cleide Canton com citação ao Rui no final.
Leia com atenção. Demore-se na leitura, comente e, se acreditar que merece mesmo... compartilhe como eu acabo de fazer.
Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte deste povo,
por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia, pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez
no julgamento da verdade, a negligência com a família,
célula-Mater da sociedade, a demasiada preocupação
com o 'eu' feliz a qualquer custo, buscando a tal 'felicidade'
em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido, a tantos 'floreios' para justificar
atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição
de sempre 'contestar', voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim, pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra,
das minhas desilusões e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir, pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir o meu Hino e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor ou enrolar o meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti,
povo brasileiro!
'De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
A rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto'.
(Rui Barbosa - 1918)
Manifestação de Ministro Joaquim B, após o julgamento:
"Não é a política que faz o candidato virar ladrão, é o seu voto que faz o ladrão virar político".