No caminho contrário às muitas pesquisas e teorias sobre como criar crianças, proponho ensiná-las a difícil arte de serem crianças.
Desde os primórdios das Revoluções Industrial e Tecnológica, exacerbado após os "Baby boomers" dos anos 50, temos criado um padrão e colocado dentro deles todas as gerações de crianças. Isto é dizer que tentamos as preparar para o mundo industrial e tecnológico no qual vivemos. Porém esquecemos desde muito cedo, e bem antes de nos tornarmos pais, que nossos filhos viverão em um mundo muito diferente do que o nosso.
Um mundo no qual a primeira ferramenta que precisarão usar será o próprio cérebro. E que terão que responder a questionamentos que nós, seus pais, nem sequer imaginamos.
E ainda deverão fazê-lo da forma mais satisfatória, certo ou errado, primeiro para si mesmos. Formas, cores e sons serão seu primeiro alfabeto.
Serendipity uma e outra vez, seguidas, até descobrirem, por fim, o que estavam procurando.
Para que esta condição seja satisfeita, eles deverão se sentir completamente à vontade para responder tais questionamentos antes de submetê-los à modelagens tecnológicas. Deverão fazer sentido e ter valor suficiente antes de expor, fantástico, onírico ou 'infantil', primeiro para eles. Independente da realidade, dos sonhos dos pais e adultos.
Para que este significado e valor sejam alcançados, a criança, precisará ter repertório suficiente. E somente atingirá tal repertório se não houver as limitações que os padrões impõem.
Uma criança que pense livre, e se sinta à vontade para fazê-lo sem o concurso da tecnologia, irá propor, na maioria das vezes, soluções inovadoras. Fora de padrões tecnológicos. Fora das respostas limitadas das ferramentas.
Deixemos as crianças sem o contágio da tecnologia, primeiro. Sem as soluções fáceis, nem imediatas, que ela fornece. Criando assim uma dependência natural dos seus próprios recursos.
Como conseguir isto?
Não presumo ter a solução, posso sugerir o que tenho aprendido; ações, isoladas ou em grupo, têm consequências... sempre. "Pense antes de fazer e imagine as consequências dos seus atos". Ensinemos-lhes, isso sim, o valor e os limites da ferramenta. Seja lá ela qual for.
Ensiná-los que o erro e a diferença são entes naturais, como parentes e família. As soluções inovadoras que temos hoje são resultado, também, dos erros cometidos anteriormente.
Somos biologicamente, finitos e falhos. E, como espécie, imaginamos, criamos e usamos ferramentas. É uma das caraterísticas desta espécie de cordatos..
Num ciclo eterno, nascemos, crescemos e morremos, aprendendo até o nosso último suspiro consciente.
Aprendendo curiosos até o final.
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