quinta-feira, 18 de junho de 2020

A logística da pandemia: pequena reflexão

Alguns imbecis culpam a ideologia da China pela pandemia mundial de Covid-19.
Mas, se prestamos atenção, veremos que, se a ideologia existe, ela não foi o motivo.

Explico: Wuhan é uma cidade de 11.08 milhões de habitantes, um pouquinho menor que SP (12.18m). O governo chinês, mediante seu exército, fechou a cidade em menos de uma semana. Ninguém entrava, ninguém saía.
Lockdown completo.
Os G2 e G4 sabem o trabalho (dor de cabeça) que dá, tomar e manter uma área qualquer (vejam seus manuais de ocupação). Fechar uma cidade desse tamanho e manter os serviços essenciais funcionando, então. Ninguém faz filme de logística. Pois é disso que falamos.


A logística necessária para conseguir isso. Exército profissional, ou seja lá quem for. Não é fácil. Até o momento não havia protocolos para lockdown metropolitano desse tamanho. Desenvolver e aprimorar a operação, desde a consciência da epidemia, até a efetiva execução, leva tempo. Fizeram da noite pro dia. Ninguém se machucou, ninguém morreu. TODOS obedeceram.

O ocidente democrático traduziu tudo isto como: "tentativa comunista de esconder o risco à saúde mundial. Escamotear a verdade e abusar do povo que sofre". Coisa de comunista, comedor de criancinhas no café da manhã. E a mídia imediatista a vendeu assim, com algumas pinceladas de interpretação particular a cada jornalista e mídia novos.
Esses comunistas malvados e perversos!
Há, deve haver sim. Mas, como em toda sociedade, são poucos aloprados.
 
Mas, será que não estamos vendo o contexto errado? Estamos vendo a ideologia da China, e não o que os chineses fizeram nesta situação específica.
Se, antes de implementar o lockdown, o governo chinês tivesse anunciado o risco de uma nova epidemia. Tente imaginar o resultado: pânico e gente fugindo da cidade, no mínimo. Consegue perceber o cenário? Vetores do patógeno espalhados pelo território todo, esperando a incubação de duas semanas.

Uma vez identificado, o vírus, é o inimigo. Patologistas, epidemiologistas e o sistema de saúde sabem o que fazer. A ação sistêmica do governo conseguiu conter localmente o contágio. Está documentado, todo mundo viu o resultado. TODOS os países (que puderam) tiraram seus cidadãos. Destarte aumentando consideravelmente a possibilidade de contágio fora da área restrita, Wuhan.
E, foi o que aconteceu.

Alguns governos, vendo a infestação, a chamaram de "gripezinha" ou "ilusão midiática extremista" e outras bobagens parecidas. Não se movimentaram, nem ativaram seus sistemas de saúde e o contágio virou epidemia e esta, virou pandemia mundial.
 
Mas é muito mais fácil culpar os chineses, que contiveram o contágio localmente. É muito mais fácil culpar os outros. Politicamente, isso é normal. Mas, antes de fazê-lo, preste atenção, dámascusta. Sempre.

O viés político de qualquer ideologia faz com que falemos da pátina e deixemos o essencial: as pessoas.

sábado, 6 de junho de 2020

Regra Três

Saí, debaixo de chuva e frio, a dirigir pela cidade. Meu único companheiro, o rádio, aleatoriamente começou a tocar acústica homônima do poeta, Vinícius de Moraes.
Sem perceber comecei a fazer comparações.
Alguém deveria escrever o "(Quase) Tudo de Moraes, Marcus Vinicius", análise e interpretação de obras. Pois soltas no ambiente se prestam para múltiplas interpretações. Se não, vejamos está que ora imponho ao leitor inocente;
"Tantas você fez que ela cansou
Porque você, rapaz,
Abusou da regra três
Onde menos vale mais."
Mesmo sabendo que o poeta pilhava com seu parceiro namorador, em três frases consegue mostrar o crime, qualificar o culpado e assinar seu castigo... universal, pois atinge a todos.
Só um poeta, Marcus Vinicius, para conseguir esse feito!
Touché!

Como disse antes em outro post, a obra não acaba no "The End".
Cada 'leitura', mesmo que incidental, gera novas oportunidades de informação e, destarte, conhecimento.
A poesia e a música já nascem abertas à interpretação e prenhes de significados além daquele (ré)conhecido do autor. Entidades independentes, criaturas do artista 'pai/mãe'.

Qual a diferença de saber ou não, o como, onde e quando, da criação da obra? Tirando os ranços maniqueístas da jogada, sem o menor julgamento de valores, falamos de arte.
A intenção define o gesto.
É arte, gente!

A menor minoria é a dos poderosos.
Sim, pode ler de novo. Está escrito certo; a menor minoria é a dos poderosos. Quanto mais poderosos, menor será o número de pares. É algo lógico. Pense nos exemplos mais óbvios; pessoas, organizações e paises.
Pense, eu espero.
...

Agora voltemos à poesia do Vinícius: "onde menos vale mais", e veja a coincidência. Claro que Vinícius não tinha intenção de marcar, mas aconteceu.
Salve poeta!