“Estamos acostumados a ver a história da nossa atividade econômica como uma arena de restrições impiedosas, na qual escassez, necessidade, dependência e coerção desempenham os papeis principais. Da perspectiva do surgimento da economia do conhecimento, entretanto, a vida econômica pode também ter sido, desde sempre, uma história do avanço acidentado e turbulento da imaginação” (Mangabeira Unger, 2018).
Contextos Históricos
Diferentemente do descrito pela Profª Terra, no seu artigo: “Redes e Mídias Sociais: Desafios e Práticas no Contexto das Organizações”, foi William Henry Vanderbilt e não John D. Rockefeller, quem pronunciou a frase: “The public be damned”, em 8 outubro de 1882. Frase esta que, tirada do seu contexto, criou um dos piores desastres de relações públicas que se tem conhecimento. Foi a partir dos desdobramentos dela que Rockefeller contrata o jornalista Ivy Lee para, então sim, assentar as bases do que conhecemos hoje como Relações Públicas.
Do Yellow Press ao Factoide
Desde que Ivy Lee começou, em 1914, o seu relacionamento com a imprensa, divulgando informações favoráveis às empresas, sob a forma de notícias começaram as atividades e técnicas de relações públicas no mundo.
Pouco antes disso tinha havido a disputa entre os grandes meios de comunicação americanos comandados, de um lado por William Randolph Hearst do New York Journal, e do outro, por Joseph Pulitzer do New York World. Ambos querendo, com pouca ou nenhuma notícia legítima e bem pesquisada, ao mesmo tempo em que usavam manchetes atraentes, aumentar as vendas dos seus jornais. A verdade pouco importava, as empresas, e seus monopólios, podiam tudo.
Mesmo o relacionamento de Lee com os Rockefeller não foi assim tão fácil. Este último, como gestor empresarial, tinha ideias muito particulares sobre como gerir seu império. E o “damned be the public” poderia muito bem ser atribuído a ele. Era um contexto de comunicação unidirecional, não havia espaço para o contraditório, não haviam negativas. Toda construção desta comunicação era direcionada para um público externo, que não necessariamente eram os seus trabalhadores, que eram duramente oprimidos pelas formas e jornadas de trabalho.
Tanto que, para Lee, depois de algum tempo, estes preceitos eram importantes:
- Ele era contrário ao segredo corporativo;
- Acreditava em ser honesto com os jornalistas;
- Não suprimia notícias;
- Achava que a razão da RP não era enganar o público;
- A performance das corporações deveria estar à altura dos padrões adequados pela RP para a corporação.
Dos Factoides aos Fake-news
Aos poucos, a comunicação, vai se transformando no elemento estratégico da gestão dos ambientes corporativos. Temas como vantagens competitivas, agregação de valores, diferenciação e inovação, e a forma como estes trafegam no ciberespaço, impactam diretamente as atividades dos profissionais de comunicação .
Segundo Terra, no Brasil, essa situação é mantida até meados da década de 80, no período pós-ditadura. A comunicação passou a conter elementos audiovisuais, que favoreceu ir além da divulgação de produtos para incluir a construção de uma imagem positiva diante dos seus públicos. Os anos 90 e início dos 2000, trazem um reequilíbrio de forças com o surgimento da internet e sua consequente produção e compartilhamento de conteúdos diversos. A comunicação, que até então navegava de forma unidirecional, ganha vias e ambientes interativos. Deixa de ser restrita ao ambiente organizacional e passa a se relacionar com públicos e interesses diversos.
No ambiente de redes, surge o conceito do influenciador, colaborativo e horizontal, mais do que a, até então conhecida, pirâmide de influências. O consumidor como criador de interesses, divulgador de gostos e lançador de modas. Surgem os “prosumers” – a mistura do “produtor” e “consumidor”. O público reativo, e que antes era chamado de mercado, hoje cada dia maior e mais interligado, transformando-se, quase em uma força da natureza, capaz de ignorar ou exaltar campanhas mercadológicas. Acreditar em propagandas políticas que irão moldar sua vida e a dos seus pares por anos a fio. Um “quase-ser” que só encontra ente parecido na ‘psico-história’ postulada por Seldon na série “Fundação” de Isaac Asimov , de 1942 a 1944.
Estamos parados na soleira do tempo. Até agora ficamos acumulando informações, enquanto o mundo lá fora continua a mudar. Ter informação deixou de ser diferencial competitivo, característica do Século XX. Hoje, nas primeiras décadas do século, quem não souber se ajustar aos ambientes/contextos fluidos, que esta informação lhes mostra -eis a caraterística do Século XXI- estará perdido.
O Século XXI será o de aprender a lidar com as incertezas .
Então, o "public be damned", adquire um novo significado quando passa a descrever não mais "eles", mas "nós todos".