Escolhí alguns desses comentários para re-vivelos aqui e não mais esquecer.
Tenham paciência, (eu)penso assim -quase- todos os dias.
"...
(...) é preocupante que o imediatismo das respostas com que a tecnologia nos encanta diariamente seja um deterrente tão importante. Em vários debates, neste mesmo grupo, já notei a mesma inquietação com relação, principalmente, às gerações mais novas. Parece que se não há uma "exposição ou contágio" (chame-mo-lo assim) desde tenra idade, à medida que se envelhece, haverá uma possibilidade cada vez menor e menos agradável de um contato -mesmo através da ferramenta tecnológica- com estes e muitos outros autores.
E se confunde ágora com game. E se muda muito pouco.
Nos diferenciamos como Elois e Morloks.
E me preocupa que mesmo entre nós haja essa mesma diferenciação, alguns que abraçamos a tecnologia e continuamos a ler. Enquanto outros a abominaram sem questão ou julgamento e, ao mesmo tempo não aumentaram seu índice de relacionamento com a produção ou ideias do grupo, eles simplesmente pouco lêem. A leitura é encarada como perda de tempo, castigo.
Quando foi a última vez que viu alguem lendo manuais? Alguem lê os manuais do iPad, por exemplo? Alguem escreve esses manuais?
Me lembro que tinhamos um acrônimo: RTFM! (Read The F*cking Manual!) ainda na época do DOS 2.2 quando nos deparavamos com problemas que poderiam ter sido evitados com um minuto de leitura anterior ao indiscriminado apertar de botões. E assim para coisas cada vez mais importantes. Reclamava com o Brentani que "os estudantes tinham dez dedos nas mãos e onze possibilidades de errar". Ele, pacientemente, sorria.
..."
-comentando sobre o hábito da leitura ou da sua ausência.
"...
(...)você diz: "Em meio à leitura, uma ponta de dúvida... quase um calafrio: quantos que leram esse artigo até o final conseguiram saber dos autores que ele citava e os leram enquanto obra completa?!"
Permita-me discordar um tanto assim. Coisa pouca na verdade. Questão de vieses nada mais.
A guisa de exemplo imagine cada autor dos arrolados por José Luis, como uma torre com raio de cobertura circular de quatro quarteirões. Concordará comigo que onde os raios de cobertura se toquem tangencialmente a cobertura automaticamente dobrará seu raio, certo? Independente do autor que seja, veja bem. A ausência de conhecimento da produção deste ou daquele autor, ou a falha nesta nossa rede imaginária, não criaria uma ausência tão constrangedora nem impossível de ser sanada. Ainda mais nos dias de hoje, onde o acesso à produção intelectual (ia dizer literária, mas me contive a tempo) é tão fácil.
Preciso ler Hanna Arendt completa? Castells e Jaeger? Cervantes e Freud? Steiner e Einstein? Aproveitemos a curiosidade que o castelo de Montaigne nos brinda. E a validação que Sacks dá a biografia de cada um. Que a curiosidade inata em nossa raça de bípedes pelados fará o resto. Eventualmente acabaremos por conhecermos todos e nossa produção.
O fato de haver falhas aqui e alí não desabona toda a rede. O que não pode haver, e sim concordo com você, é a ignorância completa pelos motivos que forem de autores que moldaram nossa zoociedade.
..."
-sobre o mesmo tema anterior. O texto do JLCoronado é este: http://ined21.com/humanismo-
"...
(...)Uma tentativa de transpor e transferir para suportes que achávamos perenes. Faz-me lembrar de um outro post seu sobre as memórias dos pacientes internados em manicômios. Imagine a fragilidade de "contatos com a realidade" e os parâmetros pessoais usados para validar imagens, sensações, sentimentos e lembranças e transferi-las para ícones -pois não passam disso-: sapatos, fotos, escovas, cadernos, roupas, um bric-a-brac de vidas. Onde a realidade é ditada por outros e os parâmetros são desenvolvidos intimamente a cada novo dia, um a um. E estes ícones, expropriados, são julgados em relação por outros... que invariavelmente usarão seus próprios parâmetros ao fazê-lo.
Quantos não pensaram: "quinquilharias", ao ver a vida dos outros exposta sem as roupas do rei.
Nus dentro de malas.
Faz muito tempo, conversava com JSantin, cardiologista amigo meu (luthier e violeiro de mão cheia) que além do coração de cordas ele mexia com as cordas do coração, aludindo ao seu diagnóstico usando variações tônicas dum EcoDoppler.
Hein?!
Como construímos conhecimento? Fazendo relações com informação. Aprendemos quando o que sabiamos se modifica e adapta ao novo ambiente. Como manter contato com esta hora em que mudamos -pois nada mais é do que isso: mudança- senão guardados entre neurônios e cordas cardíacas? Criamos ícones, suportes mnemônicos, que emprenhamos de significados.
Desculpe-me, de manhã fico tagarela. E a brisa fresca ao embalo do canto do pássaros leva minha imaginação para longe.
...!
-sobre construção de memórias e fotografias antigas
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(...)Sim, muito bonito e tal e coisa. Mas, você viu a quantidade de informação que seremos "obrigados a brindar" para que esta Web semântica consiga fazer relações? (Como irá saber de qual pizza eu gosto? E se formos dois em casa, cada qual com gostos diferentes?) Não mais entrar palavras ou frases soltas e esperar resultados mirabolantes do Google, por exemplo. Haverá que fazer relações... e, principalemente: intenção. Ou como diz o Silver (2009): "O acrônimo GIGO (garbage in, garbage out) sintetiza o problema. Se alimentarmos uma máquina com dados ruins ou criarmos uma série de instruções tolas, ela não vai transformar joio em trigo. Computadores não são muito bons em tarefas que exijam criatividade e imaginação, como conceber estratégias ou teorias sobre a maneira como o mundo funciona".
Porque há dias em que até a imaginação precisa de óculos.
Não estou dizendo que seja impossível, estou avisando (olha a Cassandra de novo!) que nesta equação ambos os braços devem mudar. Nós devemos mudar... também!
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(...)1, 2 et 4 - touché! 3 - Sim, farei isso. Em todo caso o rasto de informação é enorme. A W3C até mostra uma apresentação com dados de 2007 (18,86 bilhões de Gigabytes no analógico vs 276,12 bilhões de Gigabytes no digital) sobre a quantidade de informação estocada e nosso amigo Rui postou faz pouco um debate com números-volumes "explosivos" para dizer o mínimo. E aí, outra vez, nós -concordo mas não é exclusividade só dos brasileiros, não- que não estamos habituados a separar nem o lixo que produzimos quanto mais prestar atenção em informação.
Vem uma nova onda aí, e mesmo quem nasceu na tecnologia, vai ter que pensar muitas coisas de modo diferente. A qualidade do silêncio será outra.
(http://homepages.cwi.nl/~steven/Talks/2013/07-xx-web/)
..."
-ambos sobre web semântica
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(...)Aqui percebo um paradoxo; como retirar do gênero causas e motivações? É atávico este anhelo particular e, como doença, ele não reconhece gênero, raça ou saldo bancário (como bem diz o HTorloni). No entanto, devemos deixar de tratá-lo como a qualquer outra patologia. Atávico era também andar trepados em árvores e isso deixamos de fazer faz algum tempo. Então, podemos muito bem mudar este traço de ranço cavernoso sem problemas. Não é, ao meu ver, um problema de cifras.
Homens podem (e deveriam) cozinhar e lavar seus pratos, mulheres podem dirigir uma motoniveladora ou uma composição a diesel... ou desenhar um superpetroleiro, porque não? E ambos podem fazer com que C-A-T-G faça sentido.
O único que homem nenhum pode fazer é dar à luz (mas tem, nos créditos, seu nome inserido como extra... papel pequeno). O que nos levaria a outro debate... não?
Quanto tempo demoraram para permitir mulheres nas escolas de medicina? Às presidências de repúblicas, então?
Não me parece que tenham desempenhado pior do que muitos dos seus pares homens.
Discutirmos gêneros é como acender uma vela pelas duas extremidades ao mesmo tempo. Mas que é divertido, isso lá é.
..."
-sobre a discriminação por sexo
E, por último, um comentário que não publiquei a respeito de apreciações das futuras gerações sobre tecnologias e comportamentos atuais. Vejam se entendem:
"...
Lendo e re-lendo seu post e comentário, me chamou a atenção o modo como "vemos" os
habitantes futuros. Se minha leitura não estava errada, fica implicito que: eles pensam exatamente como nós pensamos agora.
Chamavamos os aztecas de bárbaros, selvagens. Mas eles sabiam astronomia, matemática e algumas biociências que só agora começamos a compreender. Sobreviviam num dos biomas mais desgastantes e pouco complacentes do planeta. E ainda mais, os espanhois (leia-se: os europeus), por qualquer tira-lá-essa-palha ou tosse, nessa mesma época, sangravam o paciente sem pestanejar. Também tinham os escalda-pés, o vomictórios e os purgantes. Era a terapéutica em voga. Acabavam a doença ou se acabava o paciente. Mas eles eram os "civilizados".
Tenho sempre a impressão de que olhamos para o futuro como quem está de costas para ele olhando um espelho e fazendo a descrição do que vê.
Os visionários se assombram (awe) e emudecem.
..."
Obrigado por me ler.
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