Me lembro que, quando era criança e já frequentava escola, passava todo dia em frente à Biblioteca Nacional.
Naquele tempo ficava de frente ao Palácio Legislativo. (Estou falando de quando ainda vivia na Cidade de Panamá na República do Panamá.) Era um prédio velho, em estilo francês, com pé direito alto e vários andares. Eu achava o máximo. Nada me dava mais prazer do que TER que ir à biblioteca fazer pesquisa para desenvolver trabalho escolar! Intimamente achava que aquela quantidade de livros só podia ser algo pouco menos que um milagre, um portento. Uma sorte enorme ter, ao alcance das mãos, todo esse conhecimento.
Era um lugar mágico!!
As pessoas que trabalhavam lá então, deviam ser especiais.
Escolhidas a dedo, marcadas pela sorte como beneficiadas. Eu queria ser um bibliotecário! Ou, pelo menos saber onde guardar todos esses livros e ter acesso a eles.
O tempo passou, mudei de escola, mudamos para mais longe, contudo a biblioteca continuou um lugar especial.
Crescí e comecei a pensar seriamente em bibliotecário como modo de vida, mas nem sei porque, cresceu em mim a percepção de que todo aquele conhecimento que estava guardado lá, era estático. Parado.
Parado, até alguem vir fazer pesquisa e colocá-lo em movimento. O essencial era: parado, como num cemitério. "O lendário cemitério do conhecimento humano", tal como o dos elefantes. Um encontro de realidade e lenda. Mas, não um bom encontro.
Esta associação não me trouxe entendimento, nem explicou a coisa. Entendam, até então minha associação de cemitério não era homenagem, e sim, despedida. E despedidas, naquele então, não eram boas.
Mesmo hoje, raramente o são.
Tanto que abandonei completamente a ideia de ser bibliotecário.
A vida continuou e sempre o "conhecimento" como leitmotif no meio da canção aparecia e me dominava. Como aconteceu quando, em história, me apresentaram a Revolução Francesa e a Enciclopédia. Esta assumiu a dimensão de uma aventura muito maior do que aquela simples revolta popular, a troca de tiros e perdas de cabeça. Um regime acabou, uma época morreu e eu num canto querendo saber mais sobre aqueles sujeitos que pesquisavam e escreviam sobre conhecimento!
Estava irremediavelmente fisgado.
Comecei a faculdade e -adivinha meu lugar favorito- alias, meu lugar favorito de São Paulo?
Acertou: a biblioteca Mário de Andrade, no centro da cidade.
Sábado sim, sábado também, lá estava eu enfurnado na Biblioteca Municipal. Conhecia pelo cheiro, as ruas ao redor, poderia fechar os olhos e, não fossem as pessoas e os carros, andar sem bater nos postes pelos arredores.
Antes de acabar meu curso de Comunicação Visual na faculdade já intuia que informação fazia parte importante de qualquer projeto que fosse ser desenvolvido. A informação estava bem no centro do desenho, da imagem, da fotografia. E a incipiente tecnologia trazia velocidade à equação. Meu TCC: Sistema de Orientação Visual para o Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da USP. Que, depois de uma reunião surpresa com o então Superintendente do Hospital, se transformaria em uma análise de todo o complexo hospitalar para implementação de um sistema de orientação.
Coisa pouca. Hoje, olhando para trás, sinto calafrios.
Tem mais, mas tenho que interromper...
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